Costa era o líder que se seguiria a Seguro no PS e Rio, naturalmente, um dos inevitáveis nomes para a sucessão de Passos.
No entretanto, Costa sucedeu a Seguro no PS após as europeias que este ganhou por poucochinho e a Passos na liderança do Governo após as legislativas que este também ganhou por poucochinho e depois de engendrar a solução de sustentabilidade política que tanto surpreendeu tão boa gente como o afetuoso Presidente da República que veio a ser eleito sucessor de Cavaco Silva.
E está para durar.
Nesta semana, em que Rio escreveu impiedoso artigo (no DN) para o Governo de Passos e do seu PSD e do CDS, Costa veio assegurar aos microfones da RR que mais cedo cairá o Carmo e a Trindade que a sua ‘geringonça’. Isto porque, como ousou assumir, «mesmo que o PS venha a ter maioria absoluta» em próximas eleições, por ele, voltará a haver acordo de governo com o BE e com o PCP.
A experiência, segundo Costa, não poderia estar a funcionar melhor.
De certa maneira, tem razão.
A verdade é que, com o BE e o PCP comprometidos, não há contestação que se veja nem jamais em tempo algum se assistiu a tamanha paz social.
A economia não acelera, a carga fiscal não é aliviada, os salários e pensões são o que são, as carreiras da Função Pública continuam congeladas, o apoio às empresas nunca foi tão secundarizado, mas os indicadores – maxime os do défice – servem para fingir de conta que tudo está bem e bem melhor e a caravana vai passando sem que ninguém ladre. Ou quem ladra, ladra baixinho.
Greves e manifestações nem vê-las. Se as há, e quando as há, não têm impacto de maior, nem adesão, nem preocupação para o Governo – como a dos trabalhadores da administração local que, por ocasião do Dia da Juventude, não havendo tolerância de ponto, tiveram o topete de mandar pré-aviso a dar conta de que os funcionários até aos 35 anos (!!!) fariam greve nesse dia para poderem participar nas respetivas celebrações. De caminho, no pré-aviso, lá vinham as reivindicações por melhores salários e condições de trabalho… a costumeira cartilha. Ninguém deu por nada.
Ainda que nem por isso bom candidato (os resultados eleitorais – quer partidários, quer autárquicos e legislativos – testemunham-no), Costa é um brilhante gestor de poder. Uma vez lá, nem o diabo se atreve a tentar apeá-lo.
Com uns lugarzitos de aparelho de Estado cedidos aos bloquistas e não se imiscuindo nos bastiões autárquicos de que o PCP tanto precisa, Costa lá os vai levando pela certa.
Uns e outros vão engolindo os sapos que têm de engolir a troco de manter a direita afastada do poder, com a ilusão de o poderem influenciar, por pouco que seja, e desde que assegurados os seus pragmáticos interesses – clientelares (para o BE), do coletivo partidário (para os comunistas).
O que Costa veio agora dizer é que, por ele, não há Bloco Central com o PSD seja quem for o seu líder.
A solução de governo de Costa é a que está. Que, com muito poucas ou quase nenhumas contrapartidas, lhe permite seguir seu caminho em sossego e paz social. Com a vantagem de ter em Belém um Presidente convertido e ver a Europa (sempre pronta a valorizar quem politicamente inepto ou impopular nos países do Sul) passar certidão de competência ao seu fragilizado ministro das Finanças.
António Costa confirma-se como taticista e gestor político de excelência. E a ‘geringonça’ é o seu melhor instrumento.