Até 2019, rapazes

Cada vez que o meu caro leitor ouvir um social-democrata falar nas eleições legislativas de 2019, páre e lembre-se daquilo que alguns fingem esquecer.

 É que todos os governos que cumpriram o seu primeiro mandato na história democrática portuguesa foram reeleitos. E nada nos diz que este governo do Partido Socialista não conseguirá o mesmo. Antes pelo contrário. 

Com as sondagens do PS, os votos que vai confiscando tanto ao centro como aos partidos da ‘geringonça’, o comodismo conjuntural (e ideológico) do eleitor, uma Europa que não tem tempo para gastar com Portugal e a conjuntura internacional como perdão para qualquer percalço, os socialistas de hoje não vêem outro cenário que não a vitória, com maioria absoluta ou não – até porque esta já pouca importância mantém. 

Mas voltando ao Partido Social Democrata, é comum ouvirmos dois pontos por parte dos seus dirigentes: (1) Pedro Passos Coelho deve ser candidato às próximas eleições legislativas, até por que «venceu as de 2015», e (2) António Costa deve cumprir a legislatura, oficialmente em nome da «estabilidade política», oficiosamente em nome de Costa executar uma austeridade que vá prejudicá-lo nas urnas. 

O argumento é falacioso por outros dois pontos. 

Em primeiro lugar, por que Costa executa austeridade desde que é primeiro-ministro e isso nunca o impediu de crescer uns escandalosos 10% em intenções de voto num ano; em segundo lugar, pelo facto histórico já referido: os portugueses tenderam sempre a querer que o primeiro-ministro em funções tivesse um segundo mandato; incluindo, para quem já esqueceu, o próprio Passos Coelho.  

Esta análise não é sofisticada, difícil ou exclusiva desta coluna. Qualquer indivíduo que pense política em Portugal – e ainda há quem o faça – passaria por aí, com a cautela de ter em conta o dilema dos partidos de esquerda que suportam Costa: decidir, antes das legislativas de 2019, se perdem mais votos por apoiá-lo ou por deixar de o fazer.

Não interessa grandemente, por isso, o que acontecerá. Interessa, sobretudo, por que anda tanta gente a fazer de conta que não acontecerá nada. 

A imunidade às eleições autárquicas que o PSD parece ter concedido a Passos Coelho não se deve, nesse sentido, a extraordinárias capacidades de liderança, crença numa vitória, coesão partidária ou, como os mais bem-dispostos propõem, à «coerência do discurso». Não, senhor. Responder a questões sobre a liderança do partido com «Passos irá a eleições em 2019» quer dizer que o partido sabe que Passos só deixará a liderança «pelo próprio pé» e que tal só acontece caso perca legislativas. 

Isto faz do próximo congresso, agendado para o primeiro trimestre do próximo ano, um «congresso para perder».  

Luís Montenegro, Paulo Rangel e Pedro Santana Lopes sabem que nenhum deles poderá ir contra Passos e que todos querem ir depois dele, numa lógica de continuidade interna e aparência de mudança externa. 

Rui Rio não percebeu – ou percebeu tarde demais – que deu um passo maior que a perna. Que se afirmou como alternativa a um congresso destinado a eliminar concorrência para o congresso que conta; o depois das legislativas.