Cúmplices

“Como se não interessasse se quem dispara é muçulmano, sendo que certamente interessaria (e bem) se quem disparasse fosse um neo-nazi”

A reação europeia ao atentado na Suécia é chocante. De alguma imprensa ao comunicado de Bruxelas, nota-se a recusa em rotular uma coisa que é rotulada por natureza.

Não se diz terrorista, diz-se criminoso. Não se diz atentado, diz-se incidente.

É como se o assassinato por atropelamento ou bomba viesse de uma entidade cósmica, quase do mero acaso, e não de um fanatismo que é, neste caso e no londrino, religioso.

Cresce, inclusive em Portugal, uma doutrina que apela não só ao laicismo estatal – com o qual concordo – mas a um laicismo noticioso. Como se não interessasse se quem dispara é muçulmano, sendo que certamente interessaria (e bem) se quem disparasse fosse um neo-nazi.

No dia em que fazer notícias for fazer propaganda ao que não concordarmos, não fazemos notícias. E devemos fazer.

Não falar abertamente do terror é dizer ao leitor que vive numa realidade segura, cada vez menos real. É enganá-lo. Sobretudo, é a solução para o terror continuar.

Trump manda o Congresso passear; se o jornalista ou político defender a democracia, vai deixar de falar nisso? Jean-Marie Le Pen profere uma declaração contra judeus; se falarmos nisso somos anti-semitas? Um muçulmano explode-se; se for capa de jornal, estamos a fazer-lhe "publicidade"?!

É muito perigoso condenarmos uma discordância ao silêncio por que é no silêncio que elas vencem.

A publicação do mal é uma denúncia. A desinformação é só uma nova forma de cumplicidade.