FMI. Trabalho perde terreno por causa do progresso tecnológico

O passar dos anos trouxe alterações às economias mais desenvolvidas. 

Os salários, por exemplo, já não têm o mesmo peso e, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a culpa é dos avanços tecnológicos.

Ainda assim, o FMI avança que a culpa também é da globalização, sendo que Portugal acaba por estar à frente na lista de países mais afetados pela perda de terreno no trabalho.

A tendência é, aliás, muito clara. Analisando os dados, desde os anos 70, o trabalho tem estado sempre a perder cada vez mais terreno. Entre 1991 e 2014, por exemplo, o peso do trabalho caiu em 29 das 50 maiores economias do mundo (dois terços do PIB mundial). Porquê? O FMI não deixa margem para grandes dúvidas: o progresso tecnológico e a robotização são os grandes responsáveis pelo cenário de degradação.

Portugal, como outros países da lista, tem visto o peso dos salários afundar, principalmente, desde a década de 80. O valor mais baixo em 50 anos acabou por ser atingido ainda antes da crise de 2008 e, acordo com o FMI, a situação continua a ser igual. Passados anos, ainda não houve no entanto uma recuperação.  

Além disso, registou, entre 1991 e 2014, uma quebra de cerca de dois pontos percentuais a cada dez anos, próximo da evolução observada em países como a Holanda ou EUA. Ainda assim, as perdas maiores foram registadas em países como a Indonésia, a China ou o Cazaquistão (próximas dos quatro pontos percentuais a cada década).

Como é que tudo isto aconteceu? De acordo com a análise do FMI, há dois fatores importantes: a diminuição do preço dos bens de investimento e a exposição à automatização: “A análise empírica sugere que cerca de metade da queda do peso do trabalho deverá ter origem no impacto da tecnologia".

Ainda assim, o Fundo Monetário Internacional defende que, apesar dos efeitos negativos, a globalização também ajudou a “melhorar as condições de vida e tirou milhões de pessoas da pobreza”.

Para o FMI, os resultados não são, no entanto, surpreendentes tendo em conta que a história ensina. A primeira e segunda revoluções industriais também levaram a quebras do peso do trabalho entre alguns grupos de trabalhadores.

"Apesar de os efeitos da tecnologia nestas alterações seja difícil de quantificar, o pico histórico da desigualdade (entre o final do século XIX e início do século XX nos países desenvolvidos) eram consideravelmente mais elevado do que é hoje", explica ainda o FMI.