Inglaterra. O curioso cemitério das baleias-azuis

A II Divisão inglesa é um luxo! Além de dois campeões europeus, conta com outros três vencedores de taças europeias. E 11 campeões de Inglaterra!

Maiores animais do planeta, as baleias- -azuis. Maiores clubes do planeta, aqueles que conquistam a Taça dos Campeões Europeus, agora chamada de Liga dos Campeões para poder albergar até aqueles que nunca são campeões, e com a devida vénia à sua versão sul-americana da Taça Libertadores. Dificilmente noutro lugar que não a Inglaterra poderíamos encontrar dois campeões europeus na II Divisão. E eles aí andam, Aston Villa e Nottingham Forest, os primeiros flutuando a meio da tabela, os segundos ainda meio aflitos, lá para baixo, a ver se fogem de vez do buraco assustador da III Divisão.

Muito tempo se passou desde que o Nottingham Forest de Peter Shilton, Viv Anderson (o primeiro negro a jogar na seleção inglesa), Kenny Burns, Trevor Francis, Tonny Woodcock, John Robertson e McGovern bateu o Malmö em Munique e venceu a prova em 1979. No ano seguinte, repetiria a proeza, desta vez em Madrid, perante o Hamburgo. Duas vitórias por 1-0, tal e qual como a do Aston Villa face ao Bayern de Munique, em 1982. E para os homens do Forest, uma proeza digna de figurar em qualquer registo: foram campeões da Europa mais vezes do que campeões ingleses.

Falamos de dois clubes históricos na Grande Ilha que ultrapassaram as fronteiras do seu país. Na II Divisão há duas épocas, o Aston Villa foi, muito provavelmente, o último grande inglês a sofrer uma tempestade económica que o levou a mudar de proprietários e de treinadores mais vezes do que seria conveniente. Uma crise trouxe a outra. Hoje, comandado pelo técnico Steve Bruce, antigo jogador de topo do Manchester United, o Villa está no 11º lugar da classificação a uns bastante razoáveis 28 pontos do líder, Brighton, e a 26 do Newcastle, que parecem estar ambos firmes na próxima edição da Premier League.

 

Gente fina

Já que falamos no Newcastle United, aproveitemos para dar uma vista de olhos a mais uma série de gente fina que, neste momento, se encontra na divisão secundária do futebol inglês. Há muita!

O Newcastle está à beira do regresso a um campeonato que já venceu por quatro vezes. Taças de Inglaterra, soma seis. E, na Europa, também tem uma Taça das Feiras, ganha em 1969, ao Ujpest, da Hungria, para exibir.

Descendo pela tabela classificativa encontramos, por exemplo, o Leeds United em quinto lugar. O Leeds! O velho Leeds que foi um dos grandes do Continente no final dos anos 60 e princípio dos anos 70. Muitos tê-lo-ão esquecido; muitos outros não terão, sequer, idade para o lembrar. Duas vitórias na antiga Taça das Feiras (depois Taça UEFA), em 1968 e 1971, conquistadas à custa do Ferencvaros e da Juventus. Uma final da Taça das Feiras perdida, em 1967, para o Dínamo de Zagreb. Derrotas, igualmente, na final da Taça das Taças de 1973, frente ao AC Milan, e na final da Taça dos Campeões de 1975, frente ao Bayern de Munique. Era uma equipa extraordinária que contava com homens como Peter Lorimer, Billy Bremner, Joe Jordan ou Yorath. Outro campeão inglês (último título em 1991/92) nesta II Divisão principesca.

Vencedores do campeonato e da Taça de Inglaterra parecem brotar da relva aos pontapés à medida que tropeçamos em nomes: Sheffield Wednesday (quatro vezes campeão; três vezes vencedor da FA Cup); Derby County (2/1); Preston North End (2/2); Blackburn Rovers (3/6); Wolverhampton (3/4); Huddersfield (3/1); Ipswich Town (1/1). Onze antigos campeões na II Divisão!!! Se pensarmos no escândalo que envolveu por cá a primeira despromoção do Belenenses, ficamos com uma boa ideia da forma como o futebol é visto tão diferentemente para lá da Mancha.

 

Europeus

Mas começámos por recordar dois vencedores da Taça dos Campeões, Nottingham Forest e Aston Villa, pela ordem que bem entenderem, e por isso nada como falar do estatuto europeu de outras equipas desta II divisão inglesa que mais parece um cemitério de gigantescas baleias-azuis.

O do Leeds United é imponente e já ficou atrás rabiscado. Mas há ainda mais um proprietário de troféu continental a trazer à colação. O Ipswich Town!

Na época de 1980/81, o treinador do Ipswich era o nosso bem conhecido Bobby Robson. Há alguns anos que construíra uma equipa em redor de dois holandeses de enorme qualidade, Arnold Mühren e Frans Thijssen, e revelara jovens de indiscutível valor como Jonh Wark, Terry Butcher ou Paul Mariner, ainda contando com a excelência do escocês Alan Brazil. Vitórias caseiras históricas, como um 6-0 ao Manchester United para a Liga Inglesa (com o guarda-redes do United, Bailey a defender três penáltis), ou 1-0 na final de Wembley da Taça de Inglaterra, ao Arsenal, fizeram sonhar com novo título de campeão para juntar ao da época de 1961-62. O sonho não se concretizou. O Ipswich de Robson não foi além de dois segundos lugares. Mas, em Maio de 1981, as duas mãos da final da Taça UEFA tiveram muito de espetacular: Ipswich, 3 – AZ’67, 0; AZ’67, 4 – Ipswich, 2. Thijssen (2), John Wark (2) e Paul Mariner foram os autores dos cinco golos que valeram o troféu aos blues de Portman Road.

Cinco vencedores de competições da UEFA na II Divisão? Pois. Só mesmo em Inglaterra!

Nottingham forestAston Villa