Tillerson desafia a Rússia a abrir mão de Bashar al-Assad

Secretário de Estado norte-americano chegou a Moscovo para falar sobre a Síria, depois de intensificar a pressão sobre Putin na cimeira do G7

Condecorado pela mão do próprio Vladimir Putin, em 2013, com a Ordem da Amizade, o ex-CEO da companhia petrolífera ExxonMobil e agora chefe da diplomacia norte-americana, Rex Tillerson, aterrou hoje em Moscovo para tentar convencer o seu homólogo, Sergei Lavrov, e, quem sabe, o próprio presidente – um porta-voz do Kremlin foi incapaz de confirmar a notícia avançada pela televisão russa RBC, que dava conta da realização de um encontro, esta quarta-feira, entre o secretário de Estado norte-americano e Putin, para além da reunião agendada com o ministro dos Negócios Estrangeiros – a romper com a aliança russo-síria e a realinhar-se com os EUA. 

Pelo menos é essa a interpretação possível das declarações prestadas por Tillerson, hoje, no último dia da cimeira do G7, realizada na localidade italiana de Lucca. “É claro para todos que o domínio da família Assad está a chegar ao fim. Esperamos que o governo russo chegue à conclusão que se aliou com um parceiro pouco fiável, que é Bashar al-Assad”, disse aos jornalistas, citado pelo “Washington Post”, criticando ainda os benefícios de uma aliança, que também inclui o Irão e o movimento islamista xiita do Hezbollah. “Será esta uma aliança de longo prazo, que serve os interesses russos? Ou preferirá a Rússia realinhar-se com os EUA, com os países ocidentais e com os países do Médio Oriente que procuram resolver a crise síria?”, questionou o secretário de Estado republicano. 

Para além de Tillerson, o encontro em Itália contou ainda com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos restantes Estados do G7 – Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido -, aos quais se juntaram representantes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar e Turquia, bem como a Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Federica Mogherini.

Ali debateram o futuro da Síria, e mesmo não tendo chegado a acordo sobre a proposta britânica com vista à aplicação de sanções, tanto a Damasco, como a Moscovo, pelo ataque químico da semana passada que matou 89 pessoas, na província síria Idlib, concordaram que é tempo de Putin virar costas a Assad. “Queremos que a Rússia apoie uma resolução pacífica para o conflito sírio”, defendeu Sigmar Gabriel, chefe da diplomacia alemã, num comunicado citado pelo “El País”. “Já chega! Há que sair da hipocrisia e entrar claramente no processo político”, juntou a voz o seu homólogo francês, Jean-Marc Ayrault. 
 
Putin desconfia 

O endurecimento da postura norte-americana em relação às responsabilidades do Kremlin no conflito sírio deverá ser, então, o prato forte do encontro de amanhã entre Tillerson e Lavrov, mas o mais provável é que a proposta dos EUA e do G7, à Federação Russa, com vista ao abandono de Assad, caia em saco roto. No mesmo dia em que o secretário de Estado norte-americano apregoava em Lucca o fim iminente do regime sírio, Vladimir Putin voltava a insistir na tese de que os ataques químicos foram “forjados”.  

“Temos informações de várias fontes que tais provocações – não as posso chamar de uma forma – estão a ser preparadas noutras regiões da Síria, incluindo nos arredores de Damasco, onde estão a planear lançar uma qualquer substância (…) e culpar as autoridades sírias”, acusou o presidente russo, numa conferência de imprensa na capital do país, segundo a BBC.

Para além do diálogo sobre a Síria e sobre o ataque norte-americano contra uma base aérea do regime, em resposta à utilização de armas químicas, a situação na Coreia do Norte também deverá entrar na conversa entre os líderes diplomáticos das duas potências. O ministério dos Negócios Estrangeiros russo mostrou-se “preocupado” com os alegados planos dos EUA em agir unilateralmente contra Pyongyang, uma estratégia que hoje voltou a ganhar força. “A Coreia do Norte está à procura de problemas. Se a China decidir ajudar, isso será ótimo. Se não, vamos resolver o problema sem eles!”, escreveu Donald Trump no Twitter.