«Sinto a tua falta»

Ao iniciar estas crónicas, fiquei a saber que, curiosamente, outras pessoas, minhas amigas, também gostam de fotografar frases nas paredes, e a frase de hoje foi fotografada, em Sintra, pela Alexandra.

«Sinto a tua falta» é um queixume tão poético que me comoveu, pelo facto de o seu autor ter a coragem de deixar escrito, para quem passa, que sente a falta de alguém.

Vivemos a um ritmo tão acelerado que, por vezes, nos esquecemos de telefonar a saber como estão aqueles de quem gostamos, ou olvidamos visitar aqueles que já não vemos há algum tempo. Sentimos a falta, mas acabamos por ficar enredados no quotidiano, numa letargia que nem sempre conseguimos vencer, e sem conseguirmos fazer aquilo que deveria ser prioritário – preocuparmo-nos com os outros e demonstrarmos-lhes o nosso afeto. Como escreveu Georges Bernanos: «saber encontrar a alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade». E, efetivamente, assim é.

Longe dos outros, evitamos encarar a realidade de nos sentirmos sós. Nas palavras de Florbela Espanca: «Longe de ti não há luar nem rosas; / (…) / Há dias sem calor, beirais sem ninhos!»

Ora, o amor, em sentido lato, é, na minha perspetiva, aquele que inclui também a amizade e a solidariedade. E só com estes ingredientes conseguimos entrar realmente, como diz Lobo Antunes, «no coração da vida e dos homens»!

E o afeto, que resulta desse amor, tem efetivamente de ser demonstrado. Os gestos, os abraços, a presença, um telefonema são fundamentais em qualquer relação de maior proximidade. Não basta pensarmos nos nossos amigos. Se não nos fazemos sentir presentes, não estamos verdadeiramente a viver a amizade ou o amor. E então se dirá como Mia Couto: «Magoa-me a saudade»… Magoa a falta que sentimos dos outros.

Daí que, reconhecendo a falta que nos fazem, seja tão importante dar a perceber àqueles de quem gostamos quão importantes são para nós, quanta falta realmente nos fazem, mostrando-lhes tal, com provas evidentes. E, com Neruda, dizer: «Em teu abraço eu abraço o que existe, / a areia, o tempo, a árvore da chuva. / E tudo vive para que eu viva.» Um abraço tem esse efeito mágico de dar vida a tudo à nossa volta.

Como diz Valter Hugo Mãe (já citado em crónica anterior), não basta «inventar poemas com promessas afetivas», mas dedicar um poema a alguém é um gesto lindíssimo, até porque, muitas vezes, na vida, falta-nos um pouco mais de poesia…

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services