Bento XVI faz 90 anos. O dia-a-dia do Papa emérito depois da resignação

Bento XVI, o Papa emérito, fez ontem 90 anos mas só hoje os celebrará com compatriotas, amigos e família. O alemão pratica piano, caminha nos jardins do Vaticano e não deixa de beber uma cerveja no aniversário. A gata de estimação acompanhou-o quando Bento deixou os apartamentos papais

Bento XVI, o Papa emérito da Igreja Católica, fez ontem noventa anos de vida.

No entanto, o homem que foi sucedido por Francisco optou por apenas celebrar o aniversário esta segunda-feira, devido ao facto de a data ter coincidido este ano com o Domingo de Páscoa.

Segundo informações oficiais oriundas do Vaticano, onde o alemão ainda reside, uma comitiva originária da região da Baviera – terra natal de Bento XVI – chega hoje a Roma.

A visita de habitantes bávaros não é novidade, tendo já viajado para Roma noutros aniversários e sido fotografados partilhando canecas de cerveja artesanal com o compatriota.

Outro dos presentes será o irmão mais velho, Georg Ratzinger, que é também sacerdote católico.

De acordo com o secretário pessoal de longa data, Georg Gaenswein, o festejo será “modesto”, proporcional “às forças” do Papa emérito e a presença do irmão corresponde à “prenda mais bonita”.

Gaenswein, que é arcebispo de Urbisaglia (comuna do centro de Itália), adiantou ainda este fim-de-semana que o Papa Bento se encontra “sereno, de bom humor e muito lúcido”.

As condições físicas, no entanto, contrastam com as faculdades mentais. Embora, mesmo a entrar nas nove décadas, continue a dar um passeio diário a pé, a sua “força física vai diminuindo”, estando “mais difícil caminhar”.

Diz Gaenswein que Ratzinger usa um andarilho “que garante autonomia em movimento e um andar mais seguro”.

 

Passeios, orações, Mozart e uma gata

Desde que renunciou ao papado em 2013, a primeira vez em 600 anos na Igreja Católica, que Bento XVI deixou de encabeçar publicamente a Igreja, mas manteve o nome, não revertendo para o de baptismo, Josef Ratzinger, e a referência por “Sua Santidade”.

A rotina da “reforma” é conservada num mosteiro dentro dos terrenos do Vaticano, em torno de “oração, leituras, estudo e troca de correspondência”, esclareceu Georg Gaenswein também neste último fim-de-semana.

Bento, diz-se, aprecia a compota feita das laranjas aí cultivadas. Contessina, a sua gata, também migrou dos apartamentos papais para a nova habitação de Bento XVI. Antes das remodelações serem concluídas, permaneceu em Castel Gandolfo – a residência de férias do Sumo Pontífice.

Para ele, o dia começa cedo. Aos quize minutos para as oito da manhã, o Papa emérito levanta-se e vai à missa, tomando depois o pequeno-almoço. Os já referidos passeios são feitos num terraço ou nos jardins do Vaticano. Toca piano; na maioria das vezes, sem partitura.

O Papa emérito concede de igual modo algumas audiências e retém o gosto por escutar música clássica – Wolfgang Amadeus Mozart, em particular. Em 2014, tirou uma primeira ‘selfie’, com um jovem estudante que o visitou. Os escritos de Bento XVI continuam, nesse sentido, com protagonismo académico no mundo da teologia.

 

Mútuo respeito papal

A relação com o Papa Francisco tem sido marcada pelo respeito e solidariedade.

Os Papas de Roma já foram vistos a partilhar presença em ceremónias e a rezarem juntos.

Bento mostrou a máxima humildade perante o homem que lhe sucedeu quando tirou o solidéu – pequeno chapéu que é branco no caso dos Papas e vermelho no caso dos cardeais – na presença de Francisco.

Ratzinger, teólogo de formação, foi responsável da Congregação para a Doutrina da Fé desde 1981 e o seu percurso foi de rápida ascensão na cúria romana e no colégio cardinalício. Chegou a Papa em 2005, após o falecimento de João Paulo II, de quem era próximo.