Vai ser cada vez mais difícil ter vaga para fazer especialidade médica

Ordem dos Médicos alerta Governo para excesso de internos e apela à redução de vagas nas faculdades

O alerta repete-se. Aproxima-se mais um concurso nacional para a escolha das especialidades médicas e, como aconteceu nos últimos dois anos, as vagas não deverão chegar para todos os jovens médicos que concluíram a licenciatura e o ano comum. Num comunicado divulgado hoje, a Ordem dos Médicos sublinha que no total há 246 jovens médicos formados em Portugal e no estrangeiro que se candidataram à formação especializada, mas só há 1719 vagas – o número maior de sempre mas que não chegará para todos.

As vagas disponíveis são inventariadas nos hospitais pela Ordem dos Médicos em articulação com o Ministério da Saúde.

No ano passado, 158 jovens que se candidataram ficaram sem vaga mas houve outros 200 que acabaram por desistir do concurso, optando por emigrar ou concorrer noutro ano – recorde-se que os médicos são colocados em função da nota na prova nacional de seriação e das suas preferências, pelo que com as vagas a apertar torna-se ainda mais difícil entrar nas especialidades mais concorridas. O problema do excesso de candidatos para o número de vagas verificou-se pela primeira vez em 2015, quando 114 candidatos não tiveram lugar para prosseguir a formação nos hospitais nacionais.

A Ordem dos Médicos alerta o governo de que “as insuficiências e deficiências do SNS, quer ao nível do capital humano, quer ao nível dos equipamentos, dispositivos e condições estruturais, constituem o principal fator que limita a capacidade do sistema”, sublinha o bastonário Miguel Guimarães. Além de investir em equipamentos, especialmente nas regiões mais carenciadas, a Ordem defende a redução das vagas para Medicina, que têm aumentado “de forma incompreensível”.

Entre 1995 e 2014 o numerus clausus aumentou 396%, situando-se, desde 2010, em cerca de 1800 novos estudantes de medicina por ano. Segundo Miguel Guimarães, “o resultado final está à vista e tende a agravar-se durante os próximos anos”, com um número crescente de estudantes a repetir o exame de acesso.

O alerta surge na semana em que decorre no Porto e em Lisboa a Mostra de Especialidades Médicas (mostrEM), um evento organizado pelo Conselho Nacional do Médico Interno da Ordem dos Médicos (CNMI) que visa auxiliar os jovens médicos internos no processo de escolha de especialidade. O evento repete-se em Coimbra em maio.