Irrequietos com muito gosto. Eles têm uma causa e entregam-se a ela

De pequenino se torce o pepino e eles ganharam o gosto pela irrequietude quando estavam a estudar. Movidos pela energia típica da juventude, eis alguns dos millennials irrequietos que se dedicam a uma causa.

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Pelo fim da precariedade

Henrique Chaves 25 anos, Lisboa

Estudante de mestrado em Sociologia, sofre de irrequietude desde pequenino. Militante da Juventude do Partido Comunista de nacionalidade brasileira, quer ver o mundo mudar para melhor.

“É a vida que a maioria das pessoas leva que me irrequieta. Sem grandes condições económicas, cada vez mais precárias no trabalho, que limitam planos futuros, que destroem os sonhos e se tornam uma angústia constante. Saber que grandes empresas e monopólios económicos aumentam as suas riquezas com base nesse cenário. Não dissociado disso, são grandes empresas e monopólios que beneficiam das guerras, do surgimento de políticos racistas, xenófobos, machistas e homofóbicos, entre outros problemas. Como tal, sinto que não devo estar de braços cruzados e por isso procuro lutar no dia-a-dia para transformar a sociedade e o mundo. Já há anos que milito na JCP e no PCP. Procuro discutir e esclarecer-me sobre a situação que vivemos, participo ativamente em manifestações e faço parte da direção da Frente Anti-Racista. Acredito que todos podemos contribuir para a mudança”.

 

O amor ao próximo é o lema

António Clemente, 31 anos, Abrantes

Quis que a sua relação com a Igreja não terminasse com o fim da catequese. Hoje dirige a associação Juventude Mariana Vicentina onde pode cumprir a sua missão e lutar pela sua causa solidária.

“Depois de terminar a catequese e fazer o crisma, senti que esse passo só fazia sentido se passasse à fase seguinte: de evangelizado a evangelizador. Só assim cumpriria o objetivo do sacramento, a de ser discípulo missionário. Foi aí que conheci a Juventude Mariana Vicentina, onde sou atualmente presidente nacional, e onde fui inspirado pelos modelos de Nossa Senhora e de São Vicente de Paulo. O meu principal objetivo com a minha presença na Igreja e junto dos jovens é o de dar o testemunho. Faço questão de acompanhar sempre os jovens dos vários grupos existentes no nosso país, de ser uma presença constante a nível nacional e nos encontros internacionais. Visitamos e fazemos missão em lares, creches, em instituições com pessoas com deficiência, distribuímos refeições a sem-abrigo e refugiados, e ainda alargámos o trabalho através da nossa Missão Renascer Pra Esperança, em Moçambique”.

 

Ela saltou da escola para as ruas

Beatriz Farelo, 17 anos, Lisboa

A geração Z também está cheia de irrequietos e este é um exemplo. Quer viajar pelo mundo e estudar os vários modelos de ensino. Participa em diferentes tipos de manifestações e acredita que um ativista nunca se pode calar.

“Sempre me mostrei muito irrequieta face a situações de injustiça, e em mim isso vem aliado à proatividade que desenvolvi nos escuteiros. Para quê esperar anos, ou talvez séculos, para que alguém faça, se esse alguém posso ser eu? Se quero ver a diferença feita, porque não começar por mim? A minha entrada e convivência num ambiente de ativistas fantásticos, os livros e documentários que li e vi abriram-me os olhos para a realidade: a mudança é possível (tanto que já foi feita noutros países e comunidades) e o caminho para um futuro novo pode ser construído. Entrei em contacto com mais pessoas que me fizeram perceber que não estava sozinha nesta luta. Nasceu então o Movimento Estudantil Democrático. Pretendemos que toda a comunidade educativa participe na construção de um sistema educativo melhor e diferente, e que a nossa voz chegue ao Ministério da Educação”.

 

Millennial a presidente 

José Alfredo, 30 anos, Ponte da Barca

Tinha 26 anos quando foi eleito presidente da União de Freguesias de Touvedo, em Ponte da Barca, pelo PSD. Vê o cargo como um serviço público e não como uma profissão. A experiência foi “tão boa” que agora é candidato numa lista.

“Sempre estive envolvido no associativismo académico, desde a escola à faculdade, fiz voluntariado na Cruz Vermelha e antes de ser presidente da junta estive oito anos na Assembleia Municipal de Ponte da Barca. Estudei Direito e a questão do poder local sempre me apaixonou bastante, é uma causa na qual eu acredito e daí ter-lhe dedicado todos estes anos. Ser presidente de junta tão novo numa zona tão remota exige-nos sobretudo disponibilidade e bem querença pelo que fazemos. O problema é que, às vezes, é muito difícil em termos de recursos para que possamos levar avante aquilo que pretendemos fazer. A candidatura foi encarada com surpresa mas com confiança. Não vejo isto como uma profissão, porque trabalho como advogado, vejo-o como um serviço à comunidade, até porque o meu salário como presidente da junta é de 274 euros devido ao número de eleitores, o que nem para os gastos costuma dar”.

 

 

Pelos direitos LGBT

Joana Pires, 28 anos, Santarém

Ter crescido num meio pequeno e ser homossexual não foi fácil. Hoje representa a comunidade LGBT_numa associação na qual exerce um cargo da direção. A luta é só uma: integração e direitos iguais para todos.

“Sou secretária da direção da ILGA (_Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, e Transgénero) e sou co-coordenadora do departamento jurídico da associação. Cresci num meio pequeno no meio de uma família conservadora, onde é normal termos a sensação de estarmos sozinhos no mundo assim que começámos a aperceber-nos que somos LGBT. Foi desde cedo que me apercebi que havia direitos que me eram negados devido à minha orientação sexual e, assim que vim para Lisboa estudar Direito, a ILGA estava a organizar um curso lá na faculdade e comecei a trabalhar na associação como voluntária. Quando se começaram a discutir as questões da co-adopção comecei a ser mais participativa até que me convidaram para a direção. A_ILGA faz um trabalho de integração mas também político e de mudança. Só em 2016 é que alcançámos um grau zero de discriminação na lei, 20 anos depois de se ter criado a associação”.

 

O final de um reinado em Santarém

Nuno Mira, 26 anos, Chamusca

Estudou gestão em Évora e em Lisboa, onde desenvolveu o gosto pela política. Irrequieto pelo discurso do medo, do racismo e da xenofobia, quer fazer parte de quem luta por um mundo mais justo e com maior equilíbrio de direitos.

“Quando fui estudar para Évora ganhei o gosto pelo associativismo, ao ser convidado a integrar a Associação Académica. A curiosidade levou-me a procurar o PS. Defendo uma sociedade sem classes, solidária, tolerante, progressista, onde todos temos as mesmas igualdades de oportunidades, independentemente do berço onde nascemos. As eleições autárquicas de 2013 foram a oportunidade de vencer a força política que se encontrava no poder há 34 anos. Tínhamos um grupo muito unido e coeso, apesar de sermos de gerações diferentes, existia uma enorme unidade de propósito e uma esperança inabalável na vitória, ou seja, em vencer a eleição para a Câmara da Chamusca. Como não havia candidato à minha freguesia aceitei o convite e aos 22 anos concorri num universo de 3725 eleitores fiquei a 120 votos da vencer a junta de freguesia, mas o objetivo maior foi cumprido, vencemos a eleição para a câmara”.