Montepio. António Godinho, o homem que faz guerra a Tomás Correia

A ação interposta por António Godinho que pede a impugnação  da eleição de Tomás Correia para a presidência da Associação Mutualista deverá ser conhecida em maio. Esta semana chegou às alegações finais.

No próximo mês deverá ser conhecida a sentença que pede a impugnação da eleição de Tomás Correia para a presidência da Associação Mutualista Montepio Geral, depois do processo ter finalmente chegado às alegações finais, apurou o i. A ação judicial movida pela lista D, que saiu derrotada, defende a repetição das eleições para os órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio (conselho de administração, conselho fiscal e mesa da assembleia-geral), que decorreu no final de 2015. 

O candidato derrotado crítica o processo de conferência de votos, apontando falta de transparência, nomeadamente por não ter sido possível às listas da oposição assistir ao processo de validação dos votos por correspondência (mais de 95% dos votos não são presenciais), com o argumento de que os dados dos associados são protegidos por sigilo bancário (uma vez que a validação das assinaturas é feita por semelhança com a assinatura dos clientes na base de dados bancária), considerando que isso facilita eventuais falsificações de votos.

Mas os pedidos não ficam por aqui. Mais do que a repetição das eleições, António Godinho defende que este processo obrigue a alterações em próximos atos eleitorais para que todas as listas “tenham meios adequados para fazer campanha”. A lista eleita recebeu 30891 votos, cerca de 59% dos associados e,  além de Tomás Correia, integra nomes como o do padre Vítor Melícias e de Álvaro Pinto Correia, ex-mandatário distrital em Santarém da candidatura de Cavaco Silva à Presidência. 

Candidato derrotado

António Godinho é um dos rostos do projeto “Renovar Montepio” em que fez duras críticas à gestão de Tomás Correia, acusando-o de gerir a instituição de forma pouco democrática. Já este ano e, depois das polémicas que têm abalado tanto a instituição financeira como a associação que gere o banco, acusou a atual gestão de falta de transparência, pela apresentação tardia e incompleta dos resultados. Este associado desafia a atual direção a demitir-se ou suspender o mandato, afastando a instituição da investigação e dos processos judiciais associados à mesma.

A lista derrotada era apoiada por José Braga Gonçalves –  antigo homem forte da Universidade Moderna e que esteve detido durante quatro anos acusado de corrupção – e contava com nomes como o sindicalista João Proença, o ex-ministro das Finanças António Bagão Félix , o general Pinto Ramalho e Vítor Batista, que foi deputado socialista e governador civil.

Mas quem é António Godinho? É um ex-trabalhador do Montepio, mas acabou por sair para se dedicar ao mundo dos negócios. Fundou o grupo Onebiz que oferece redes e serviços em sistemas de franchising. Com sede em Matosinhos, atua em vários setores de atividade, nomeadamente na área dos serviços financeiros, educação e hotelaria. No final do ano passado, o Onebiz comprou 50% do controlo da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Leixões, da 2.ª Liga, em que a restante parte ficou nas mãos do empresário Paulo Lopo.

O clube de futebol viu-se recentemente envolvido em forte polémica, depois da Polícia Judiciária (PJ) ter detido Carlos Oliveira, presidente do Leixões – entre outras detenções que envolveram dirigentes e jogadores de futebol de outras equipas – no âmbito da operação chamada “Jogo Duplo” que investiga jogos viciados. “Em causa estão suspeitas de manipulação de resultados de jogos da II Liga de futebol, com recurso ao aliciamento de jogadores.  

Separação de atividades

A Associação Mutualista, atualmente com 633 mil associados e que detém o banco com o mesmo nome, vê-se agora a braços com a exigência por parte do Banco de Portugal em mudar o nome. A ideia desta imposição é simples: afastar o banco de riscos de reputação no caso de existir problemas em resgates de produtos financeiros de clientes da Mutualista. Mas é uma imposição que está longe de criar consenso.

A dona do Montepio tem vindo a garantir que a mudança da marca do banco “não está em cima da mesa”, acrescentando que “se algum dia vier a estar, tratando-se de um assunto de natureza estratégica, teria de ser aprovado em assembleia-geral”. Já o presidente da instituição financeira, Félix Morgado, vê esta alteração com naturalidade e lembra que, se isso vier a acontecer, “será resultado de uma orientação do supervisor”. No entanto, tem deixado uma ressalva: “O Montepio tem de cumprir a orientação, mas a alteração da marca cabe à assembleia-geral decidir”.

Recorde-se que, em 2015, o Conselho de Ministros aprovou um diploma que veio regulamentar a atividade das caixas económicas que funcionam como bancos. A clarificação e reforço da supervisão do Banco de Portugal e uma separação clara entre os acionistas e a administração das instituições foram dois aspetos destacados pelo anterior governo. Este diploma veio distinguir as caixas económicas de maior dimensão, onde se inclui o Montepio Geral, que passam a estar equiparadas a bancos em matéria de controlo e supervisão. O critério é terem ativos superiores a 50 milhões de euros. Na altura, o executivo considerou que, com estas alterações, foi possível ultrapassar um patamar de alguma indefinição em relação a esta instituição, designadamente em matéria de supervisão.