Passos diz que “ainda há muita austeridade disfarçada”

Líder da oposição usou newsletter do partido para criticar governo. Fala de “miopia crónica” e “vontade de agradar a qualquer preço”

Passos Coelho acusou hoje o governo de viver da herança que recebeu no plano económico e de usar "expedientes orçamentais" para criar a ideia de que as metas estão a ser cumpridas de forma sustentada. Num artigo de opinião intitulado "A Falsa Alternativa", publicado esta noite na newsletter no partido, o líder da oposição diz que os resultados "não são demasiado maus", mas são uma ilusão, considerando que enquanto a atual maioria continuar a governar o país continuará "adiado". 

O Presidente do PSD lembra os dois PEC aprovados em 2010 antes do pedido de intervenção da troika por José Sócrates para defender que, se os socialistas soubessem que havia alternativa, a teriam posto em prática evitando a intervenção externa e a "consequente humilhação política para o seu governo e para o País".

Passos Coelho defende ainda que foi o sucesso na estratégia de recuperação nacional que o governo anterior pôs em prática que deu "espaço de manobra ao executivo atual para mais escolhas nas políticas públicas", acrescentando que os partidos da atual maioria defendiam políticas que teriam levado a uma situação de incumprimento como aconteceu com a Grécia.

E se na Grécia continua a não haver alternativa à austeridade, acrescenta Passos, em Portugal "ainda há muita austeridade disfarçada".

O ex-primeiro ministro argumenta que a recuperação dos indicadores mais relevantes iniciou-se ainda em 2013 e sublinha que a "recuperação económica não nasceu com este governo", acusando mesmo os socialistas de atrasar o crescimento. "A economia cresceu 0,9% e 1,6% respectivamente em 2014 e 2015. Recordo que, no ano passado, a economia cresceu apenas 1,4% abrandando, assim, o ritmo que vinha de trás." 

A principal crítica prende-se com a redução do défice público, que Passos acusa de ter sido conseguida com uma redução não programada do investimento público e receitas extraordinárias, lembrando o plano B que o governo "negou existir durante quase todo o ano" e os cortes no investimento, nomeadamente as cativações definitivas de 470 milhões de euros.

"Enquanto vive da herança que recebeu no plano económico e de expedientes orçamentais para criar a ideia de que cumpre sustentadamente as metas, o governo degrada as perspectivas do futuro por duas vias: pela reversão que faz de reformas estruturantes que realizámos no passado recente, e pela ausência de qualquer agenda reformista digna desse nome a pensar no futuro", escreve ainda Passos.