A pobreza recua no mundo, mas…

Há meio século atrás estava convencido de que o crescimento da economia, nessa altura muito elevado, iria acabar com a pobreza nos países ricos – na Europa, nos Estados Unidos da América, no Japão. Mas isso não aconteceu.

Decerto que nesses países a pobreza diminuiu muito. Segundo o Banco Mundial, a pobreza extrema (rendimento de apenas 1 dólar e 90 cêntimos por dia) baixou de níveis entre 80 por cento da população (Japão) e 40 por cento (EUA) no século XIX para menos de 5 por cento agora. A pobreza não terá sido totalmente eliminada nas sociedades ricas porque causas não diretamente económicas entraram em jogo. É o caso da droga, por exemplo, e da desestruturação familiar.

Por outro lado, a pobreza ter ficado reduzida a pequenas minorias, frequentemente marginais, tirou aos pobres peso eleitoral, logo têm menos força política. Aliás, boa parte dos pobres em países ricos nem sequer votam. Ora a criação de apoios sociais aos pobres, sobretudo na Europa, teve muito a ver com a generalização do sufrágio universal, já no século XX. A primeira reivindicação da então maioria pobre era que o Estado criasse uma proteção para os azares da vida – doença, desemprego, morte, etc.

 Se o capitalismo não eliminou a pobreza, o ‘socialismo real’, soviético, não fez melhor. Durante décadas a ascensão da União Soviética à categoria de superpotência levou vários novos países do então chamado Terceiro Mundo a inspirarem-se no modelo comunista, que lhes parecia uma via rápida para a industrialização e a prosperidade. Mas o colapso do comunismo teve na raiz a sua ineficácia na área económica. Desfizeram-se as ilusões.

 

Não há dúvida de que ao longo dos últimos 200 anos – ou seja, a partir da Revolução Industrial – a pobreza extrema globalmente diminuiu muito, período durante o qual a população mundial foi multiplicada por sete. Em 1970 havia no mundo 2,7 mil milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, em 2013 eram apenas um terço, 705 milhões.

 Depois disso a pobreza extrema continuou a diminuir, estimando-se que hoje afete menos de 10 por cento da população mundial. Um resultado que, na Grã-Bretanha, primeiro país a industrializar-se, apenas foi obtido por volta de 1920, cem anos após os primeiros passos da Revolução Industrial.

 Nesta evolução sem precedentes na história mundial contou muito, nas últimas décadas, o extraordinário crescimento económico chinês (que agora abrandou um pouco, como é natural) e também o indiano. Também houve progressos na América Latina, mas menores.

 

A pobreza ainda é um grande problema na África ao Sul da Sahara e na Ásia do Sul. As perspetivas mais preocupantes vão para África. Em 2013 em África havia 383 milhões de pessoas em pobreza extrema, cerca de 40 por cento da população. No continente africano vivem agora mais de metade dos muito pobres que existem no mundo. Mesmo países ricos em petróleo, como Angola e a Nigéria, não escapam a este flagelo.

 A população africana está a aumentar rapidamente (cerca de 2,5 por cento ao ano). Mas as guerras, civis e outras, que envolvem inúmeros países africanos, assim como a incompetência e a corrupção de muitos governantes, são os principais fatores de o número absoluto de pobres em África ser atualmente mais alto do que era na década de 90 do século XX.