Operação Aquiles: a teia e os 29 arguidos

Oito pessoas estão em prisão domiciliária e um em prisão preventiva. Em causa estão suspeitas dos crimes de tráfico, corrupção e associação criminosa.

Operação Aquiles: a teia e os 29 arguidos

Na última semana foram acusadas 29 pessoas por crimes de tráfico de droga, associação criminosa e corrupção, no âmbito da Operação Aquiles. Entre os acusados encontram-se o ex-coordenador da Polícia Judiciária Dias Santos e o inspetor-chefe Ricardo Macedo – ambos com um percurso ligado à investigação de crimes de tráfico. 

Os procuradores João Melo, Lígia Salbany e Vitor Magalhães salientaram no despacho final que as condutas dos elementos da Judiciária eram «particularmente graves», uma vez que não respeitaram a «fidelidade reclamada pela sua qualidade de inspetores da PJ e infringiram as regras e exigências de legalidade, objetividade, imparcialidade e independência».

O investigador e o coordenador reformado são por isso acusados de associação criminosa com vista ao tráfico, tráfico de droga agravado e corrupção passiva para ato ilícito.

O cabo da GNR Baltazar Silva, acusado de associação criminosa e tráfico de droga, é considerado pela investigação como a pessoa de confiança de Ricardo Macedo, que assumiria algumas das ligações para minimizar o rasto do PJ.

Na prática os dois elementos da Polícia Judiciária são suspeitos de integrarem grupos organizados que se dedicavam ao tráfico de droga e que atuavam em diversas geografias. O papel de Macedo e de Dias Santos seria o de passarem informações privilegiadas sobre as investigações nacionais, cobrando por isso quantias em dinheiro.

De acordo com a acusação os arguidos tinham noção de que «estavam a beneficiar elementos pertencentes a redes de traficantes de droga, condutas que sabiam ser de extrema gravidade».

Há muito que existiam suspeitas sobre a atuação de Macedo e Dias Santos – pelo menos desde 2006 – e sobre as suas ligações ao mundo do tráfico de droga, mas em 2013 uma informação das autoridades norte-americanas que dava como certo que ambos seriam toupeiras de grandes traficantes levou a que se iniciasse a investigação da Unidade Nacional contra a Corrupção.

As desconfianças dos americanos foram tantas que «a Drug Enforcement Administration [DEA] por falta de confiança esteve mais de um ano sem colaborar com a PJ», referem os procuradores.

A referência aos dois surgiu depois de os americanos terem percebido que, mesmo depois da saída de Dias Santos da UNCTE, as fugas não acabaram, o que levou a desconfiar-se de outro elemento. Mais ao menos ao mesmo tempo, António Benvinda, ex-polícia que se entregara ao mundo do crime, decidiu fazer uma queixa por estar a receber ameaças de morte de um cartel de colombianos, uma vez que alguns carregamentos de droga não estavam a chegar ao destino, entre as quais a que vinha no contentor dos ananases. Benvinda contou aí tudo o que sabia sobre os elementos da PJ, reforçando o que alguns já tinham dito à polícia anteriormente, como uma antiga companheira de Jorge Manero, traficante com relações a Dias Santos (ver texto pág. 6).

De todos os acusados, oito estão atualmente em em prisão domiciliária – é o caso de Ricardo Macedo, Dias Santos e Baltazar Silva. Apenas um está em prisão preventiva, o homem que o MP diz ser o braço direito de Franklim Lobo, o alegado cabecilha da rede.

As defesa dos arguidos tem agora um prazo para decidir se vai ou não pedir abertura de instrução. Ao DN, Carlos Melo Alves, que defende Dias Santos disse que o mais provável é pedir a abertura de instrução.