Roupa confortável, meias antiderrapantes, plasticina e ritmo. As novas provas de aferição do 2º ano

Provas de aferição de Expressões Artísticas e Expressões Físico-Motoras vão ter lugar pela primeira vez na próxima semana. Guiões chegam à escola amanhã e desta vez não faz mal se os alunos souberem o que vai sair. “Educação física ou educação musical também são currículo”, diz Secretário de Estado da Educação João Costa

Os guiões das novas provas de aferição Expressões Artísticas e Expressões Físico-Motoras, que vão ser feitas pela primeira vez pelos alunos do 2º ano na próxima semana, chegam às escolas já amanhã. Ao contrário dos testes habituais, desta vez haverá “guiões de tarefas” e não enunciados com perguntas. Esta está longe de ser a única novidade: trata-se das primeiras provas de aferição “performativas” na história do país, salientou esta manhã, num encontro com os jornalistas, o Secretário de Estado da Educação João Costa. As provas vão avaliar o desempenho dos alunos em áreas do currículo sobre as quais a tutela mas também os pais têm pouca informação. “Portugal sabe muito sobre português ou matemática, mas sabemos muito pouco ou quase nada de tudo o resto. Educação física ou educação musical também são currículo”, frisou João Costa.

Perceber até que ponto as escolas e os professores valorizam estas dimensões dos programas, mas também expressão dramática e plástica, é um dos objetivos. Outro é diversificar as ferramentas de avaliação disponíveis no sistema de ensino, indo além dos tradicionais testes em que os alunos vão para a sala só com papel e caneta. Desta vez devem apresentar-se com roupa confortável e meias antiderrapantes, isto no caso da prova de expressões artísticas. Já na prova de expressões físicas e motoras pede-se equipamento adequado para a prática de exercício físico.

A maior parte do material necessário será disponibilizado pela escola, de bancos suecos a lápis de cera e plasticina. Apesar de nos últimos meses terem sido suscitadas dúvidas sobre se haveria condições para todos os alunos fazerem as provas, João Costa garantiu que as escolas estão preparadas e que algumas câmaras contribuíram. E sublinhou que o problema não é as escolas terem equipamentos para aplicar as provas, mas para darem o currículo no dia-a-dia, adiantando que as provas vão permitir fazer uma "fotografia" não só do desempenho dos alunos mas do sistema de ensino. 

Se balanços só no final das provas, que vão decorrer entre 2 a 9 de maio, eis o que se sabe.

Avaliação qualitativa e individual

Tratando-se de provas nacionais de aferição, o resultado não conta para a nota dos alunos. Mas aqui há mais uma diferença em relação aos testes habituais: como passou a ser regra no ano passado nas provas nacionais de aferição, a nota não vai ser uma pontuação de 1 a 5 ou 0 a 20.

No final do ano letivo, os pais vão receber um relatório individual, em que será apresentada uma descrição do desempenho, indicando se o aluno conseguiu resolveu a prova ou se não conseguiu, em que é que revelou dificuldades se foi caso disso e se  não desempenhou alguma das tarefas.

A informação das turmas será depois agrupada e, no final do processo será feito um balanço nacional do desempenho dos alunos nacionais nestas áreas. O objetivo, disse João Costa, é ajudar as escolas e a tutela a desenvolver estratégias que vão ao encontro daquilo que forem as necessidades dos estudantes.

Um “dia normal” nas escolas

Dada a natureza prática das provas, os exames não será feitos ao mesmo tempo em todo o país como acontece habitualmente nos exames nacionais mas ao longo de seis dias, com a organização a ser gerida por cada agrupamento.

As turmas do 2º ano vão ser chamadas, em algum momento deste período, para realizar ambas cada uma das provas. João Costa disse esperar que tudo decorra como se se tratasse de um dia normal. As provas vão ser acompanhadas pelo professor dos alunos mas por uma equipa de observadores, que pode incluir professores de Educação Física, de Música ou de Educação Visual, neste caso docentes do 2º ciclo.

São estas equipas de três professores que vão ter de chegar a consenso sobre a avaliação dos alunos em cada uma das provas. À medida que os alunos forem feito as provas, é natural que comecem a comentar o seu conteúdo. Se a prova de expressão motora será única em todo o país, haverá seis versões da prova de expressões artísticas. João Costa explica que estarem os alunos todos em pé de igualdade foi um dos motivos para enviar os guiões para as escolas já amanhã em vez de acontecer no dia, como nos exames de acesso ao ensino superior. “Neste caso, as ‘tarefas’ não são passíveis de um treino que desvirtue o resultado”, justificou o governante.

Expressões Artísticas

Esta prova tem a duração de 135 minutos. Os alunos terão de levar um lápis, um afia e uma tesoura, além da tal roupa confortável. A escola terá plasticina, folhas de papel, cola, lã, revistas, tecidos, materiais recicláveis e uma garrafa de plástico.

O IAVE já disponibilizou um exemplo de prova, que mostra as diferentes componentes da avaliação. Terá uma vertente de expressão dramática, como os alunos terem de imitar-se uns aos outros “como se fosse um espelho, em câmara lenta” ou interpretar como apanhariam boleia do vento, isto num exercício de grupo (outra novidade das provas). Pode depois haver uma vertente de expressão rítmica, como repetir uma lengalenga, e outra mais manual. No exemplo dado, seria pedido que usassem um quadrado de papel para fazer a cabeça de um gato e decorá-lo com materiais diferentes.

Expressões Físico-Motoras

Tem a duração de 60 minutos, mais 30 de tolerância, e consiste numa espécie de gincana onde serão testadas diferentes movimentos, do equilíbrio num banco sueco ou lançamento da bola ou do arco. Os alunos que não consigam executar com sucesso à primeira tentativa qualquer uma das tarefas, poderão tentar uma segunda vez, isto à exceção de um jogo de grupo que terá duração de oito minutos.

“Também pode haver objetividade nestas áreas”

A avaliação não será quantitativa, mas qualitativa. Ainda assim, como se avalia se alguém apanhou devidamente boleia do vento? Neste caso, este será apenas um exercício da prova para o qual não haverá uma avaliação. Para todas as tarefas, foi disponibilizada uma grelha de avaliação com códigos que permite avaliar se os alunos executam as instruções, no caso por exemplo da repetição de uma frase rítmica ou lengalenga, de forma percetível e audível ou nem por isso. No caso da criatividade, há duas hipóteses: o aluno demonstra ter ideias originais (por exemplo para decorar a cabeça do gato) ou se não demonstra. João Costa defende que, mesmo nestas áreas, é possível ter uma avaliação objetiva, da mesma forma que isso acontece no ensino artístico e garantiu que houve reuniões nas escolas para preparar a realização das provas.

Mais novidades em junho

Esta não é a única estreia este ano em matéria de provas de aferição. Em junho os alunos do 5º ano vão ter pela primeira vez provas de aferição em História e Geografia de Portugal. Já o 8º ano vai estrear as provas de aferição em Ciências Naturais e Físico-Quimica, seguindo-se a ideia de "provas híbridas" que misturam conteúdos de diferentes disciplinas.

Os planos, disse ao i Hélder de Sousa, Presidente do IAVE, é que no próximo ano letivo os alunos do 5º ano também façam provas de aferição das expressões artísticas e físico-motoras. Como neste nível de escolaridade os alunos já têm mais disciplinas, as provas a realizar em cada ano letivo deverão passar a alternar para que, depois do 2º ano – em que são feitas as primeiras provas nestas áreas mas também português e estudo do meio e matemática e estudo do meio – os alunos repetiam a avaliação de outras áreas curriculares pelo menos uma segunda vez ao longo do percurso escolar, ou no 5º ou no 8º ano.