BdP alerta para fragilidades que podem limitar crescimento

Economia portuguesa está a recuperar, mas o elevado endividamento e a demografia são problemas apontados

O Banco de Portugal (BdP) considera que a economia portuguesa está a recuperar, mas alerta para fragilidades que colocam riscos ao crescimento.

De acordo com o boletim económico de maio da instituição, divulgado ontem, “a economia portuguesa tem revelado uma notável capacidade de ajustamento macroeconómico e uma reestruturação setorial assente numa dinâmica de internacionalização das empresas”, mas a continuação do crescimento exige “o reforço do investimento”.

O documento do BdP salienta as fragilidades que têm origem nas “baixas taxas de poupança”, no “elevado endividamento” – quer público, quer privado –, na “evolução demográfica desfavorável” e na “incerteza do quadro internacional”, em especial na Europa.

Análise

O boletim da instituição liderada por Carlos Costa, que faz uma análise à evolução económica do país no ano passado, considera que o país teve um crescimento “moderado” em 2016, com uma “forte aceleração no segundo semestre”, ao “mesmo tempo que houve uma “redução significativa do défice orçamental” e o emprego registou “uma evolução positiva”.

No entanto, alerta, apesar dos sinais de que “a recuperação da economia portuguesa tenderá a prosseguir”, são necessários maiores níveis de investimento.

De acordo com o boletim, uma das “variáveis fundamentais para o crescimento da economia portuguesa é o investimento. (…) Em 2016, esta variável registou uma queda em volume de 0,8%, após um crescimento de 4,7% em 2015, embora com um perfil de recuperação intra-anual e com uma aceleração na componente empresarial”.

No entanto, alerta o BdP, “a evolução do investimento afigura-se insuficiente, não só porque a queda durante o período da crise foi muito acentuada, mas também porque o capital por trabalhador na economia portuguesa se mantém em níveis baixos quando comparado com a média da área do euro”.

Os autores do documento salientam que “os reduzidos níveis de capital concorrem para o fraco desempenho da produtividade do trabalho na economia portuguesa, que voltou a diminuir em 2016”.

Desequilíbrios externos

O BdP considera que o fraco crescimento da produtividade do trabalho é “um fator de preocupação” que pode conduzir a desequilíbrios externos.

Também a nível externo, o regulador aponta que “num contexto de baixo crescimento económico”, a “elevada volatilidade e de fortes valorizações nos mercados financeiros pode conduzir a perturbações na economia internacional”. Estas perturbações “tenderão a ser ampliadas nas economias mais endividadas”, como a portuguesa.

Já sobre as “tendências demográficas existentes na economia portuguesa”, o BdP considera que estas “não são fáceis de reverter” e que “fenómenos emigratórios tendem a agravá-las”.

De acordo com a instituição, esta “situação constitui um importante travão ao crescimento da economia portuguesa”.