Colocar a gastronomia no roteiro turístico nacional

«São pessoas que gastam mais cerca de mil a 1200 euros só para usufruírem da cultura gastronómica local, por visitarem um produtor ou para participarem num workshop»

Colocar a gastronomia no roteiro turístico nacional

Esta poderá ser uma das soluções para reter os turistas mais tempo no país, uma luta contínua do setor.

Aliar a gastronomia ao turismo é uma das palavras de ordem da Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia (APTECE). No entender da entidade, para que Portugal seja apresentado como marca forte e de valor tem de estar associado à venda da tradição da culinária, «sendo esta confecionada com produtos biológicos e com as melhores seleções de proteína animal. É esse o caminho que temos de reforçar», refere ao SOL o vice-presidente Mário Cerdeira.

Aliás, de acordo com este responsável, a gastronomia poderá funcionar como uma espécie de salvação para aumentar a estada média em Portugal, que continua a ser considerada muito baixa. De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, a estada média foi 2,56 noites em fevereiro, tendo decrescido 0,7% face ao mês anterior.

«É preciso reter os turistas mais noites no país e isso terá que ser feito com aumento de uma oferta de qualidade, criando programas que os façam percorrer o pais e conhecer as nossas diferentes realidades e aí a gastronomia pode ser um motor de desenvolvimento», acrescentando ainda que os produtos nacionais, como o vinho, o peixe e outros têm visibilidade e precisam de ser transformados em experiências para prender o turista em Portugal.

Ainda assim, o responsável reconhece que o mercado gastronómico tem registado um aumento da procura nos últimos anos e isso deve-se «ao facto das pessoas verem a gastronomia como uma arte onde se aprecia a apresentação, o sabor e o aroma de um ‘prato’ bem elaborado e harmonizado onde o cozinheiro explora cada vez mais combinações de alimentos variados», salienta.

 

Seguir outros exemplos

A verdade é que esta não é uma novidade portuguesa, apesar de ter sido alvo de uma maior aposta. Mário Cerdeira lembra o caso de Itália e da região da Toscana em particular que é uma região que faz do turismo de experiência gastronómica uma das suas principais fontes de receita, explorando a história e a produção dos seus produtos. O mesmo acontece na região de Champagne, em França, e na Irlanda, onde há vários anos implementam o projeto Good Food Ireland.

Ainda assim há países que começaram agora a dar os seus primeiros passos. É o caso da Turquia que tem feito grandes investimentos, a Suécia, «embora neste caso com um trabalho estruturado de preparação das suas empresas e profissionais e que dentro de uns anos terá condições para captar um turismo que procura a excelência culinária», e a Rússia a quem Portugal tem dado aconselhamento.

Já em relação a Espanha, o vice-presidente chama a atenção para a existência de realidades distintas. «Este país tem por um lado um forte turismo que rapidamente percebeu a qualidade da gastronomia espanhola, com destaque para a Catalunha, e aqui a atratividade da cidade é o foco que depois passa a experiência gastronómica, mas temos depois o pais basco, com San Sebastián a destacar-se, onde a experiência de turismo de culinária, com envolvimento dos produtos e artes é cada vez mais forte», acrescenta.

Turistas dispostos a pagar mais

Apesar de não haver dados concretos sobre a gastronomia como destino turístico, Mário Cerdeira acredita que os turistas que têm uma paixão particular pela gastronomia estão disponíveis a pagar mais 30% a 40% por uma boa experiência gastronómica. «São pessoas que gastam mais cerca de mil a 1200 euros só para usufruírem da cultura gastronómica local, por visitarem um produtor ou para participarem num workshop», garante ao SOL.

Face a este potencial de crescimento, o vice-presidente da APTECE diz que é preciso existir uma maior cooperação para o negócio. Para isso, defende uma maior cooperação entre autarquias e agentes locais, entre produtores agroalimentares e unidades de turismo, entre agentes de viagens e empresas de entretenimento local. «É preciso criar estratégias locais de captação e de experiência para a gastronomia, reter receita localmente e desenvolver a economia local», adianta.