Gabriela Canavilhas. “É a pessoa mais generosa que conheço”

A minha mãe foi uma das primeiras raparigas a sair da ilha das Flores para estudar em São Miguel, no tempo em que o trajeto de 20 km entre Ponta Delgada das Flores e Santa Cruz se fazia mais depressa por mar do que por terra, por falta de estradas. 

Alta, bonita, sorriso aberto e altivo, tipo Ava Gardner, teve três filhas, viveu em três continentes e teria corrido mais mundo se as circunstâncias o propiciassem, porque curiosidade e coragem sempre lhe sobraram.

Mulher de armas, acompanhou o meu pai em comissões militares em África, deu aulas em palhotas, ia ao cinema no meio do mato porque filmes, livros e jornais não podiam faltar onde faltava quase tudo. Trabalhou numa fábrica em Massachusetts porque a aventura lhe aguçava o espírito e quis que as filhas vivessem a experiência americana. É a pessoa mais generosa que eu conheço.

Como herança, deu-me a visão positiva da vida e uma permanente resiliência à adversidade. Ah, e a boa disposição, a dela é extraordinária, ainda hoje abrilhantada com gargalhada fácil e sonora, sempre de cigarro nos dedos, exibindo orgulhosamente as suas longas unhas pintadas e um sorriso cúmplice. Tivessem todos uma mãe como a minha e o mundo seria feliz.