Patrícia Reis. “A minha mãe possui um universo de referências que se espelham em mim”

A minha mãe possui um universo de referências que se espelham em mim e nos meus dias. 

Somos diferentes e depois somos iguais. Ciente de que a minha herança é feita de pequenos gestos tento, há vários anos, fixar expressões, acontecimentos, pequenas histórias que são apenas da minha mãe, pertencem-lhe e constituem também uma roupagem emocional com a qual me visto. Os anos que nos separam são poucos, não chegam a vinte, por isso existe uma proximidade. Mas não foi sempre assim.

Aprendi da pior maneira que a fase mais difícil e triste da vida de uma mãe é a adolescência dos filhos. Eu fui uma adolescente complicada. Não valorizei o que a minha mãe aturou até os meus filhos chegarem a esta fase de vida onde é impossível a comunicação, durante a qual os afetos são suspensos temporariamente.

A minha mãe sobreviveu às minhas manias, às do meu irmão, e sempre me disse que eu sobreviveria às dos meus filhos. A forma como se relaciona com os netos é distinta daquela que a orienta connosco, os filhos. Há uma certa bonomia, um à-vontade e pouca possibilidade de crítica. Porque os netos são os filhos sem compromisso. De momento, é algo que lhe invejo.

Não comemoramos o dia da mãe neste dia de maio, mantivemos a tradição de Dezembro, o dia 8, porque há tradições que ultrapassam o peso da religião, são apenas mostras de amor.