António Costa e Marcelo sempre ao lado do Papa em Fátima

O católico Marcelo estará em Fátima durante a visita do Papa. A novidade é que o não católico António Costa também não vai perder uma única cerimónia ao lado de Francisco

O primeiro-ministro António Costa vai estar durante os dois dias da visita do Papa a Portugal, na sexta-feira e sábado próximos, sempre, sempre ao lado de Francisco, durante a visita de peregrinação do chefe máximo da Igreja Católica, que assinala os 100 anos das aparições de Fátima.

Da chegada à base aérea até à despedida do Papa de território português, António Costa não vai perder um segundo da visita. E estará presente em todas as cerimónias religiosas, nomeadamente na canonização dos beatos pastorinhos Francisco e Jacinta, confirmou ao SOL o gabinete do primeiro-ministro.

Costa estará ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa a receber Francisco logo na aterragem do Papa em solo português, que está prevista para as 16h20m da próxima sexta-feira, na Base Aérea de Monte Real. Depois, tanto o primeiro-ministro como o Presidente da República participam ao lado do Papa na Procissão das Velas, a cerimónia religiosa que abre o início da celebração católica.

No programa inicial da visita divulgado em março pela agência Ecclesia não estava previsto que o primeiro-ministro fosse à Base Aérea receber o chefe da Igreja Católica. Apenas o Presidente da República, homólogo político de Francisco enquanto chefe de Estado e católico praticante, era suposto ir receber o Papa.

Entretanto, as coisas mudaram. Costa fez questão de estar ao lado do Papa, como Marcelo iria fazer, durante as 22 horas e 40 minutos que Francisco vai passar em solo nacional a celebrar o centenário de Fátima. A viagem do Papa a Portugal foi apresentada pelo Vaticano – logo quando foi anunciada em dezembro passado – como uma «peregrinação».

A segunda figura do Estado, o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, também vai esperar o Papa à Base Aérea de Monte Real e estará presente na cerimónia de despedida de Francisco do território português, o que acontecerá às 14h45 de sábado. Mas Ferro, que não é católico, não irá, pura e simplesmente, a Fátima, limitando-se a uma comparência institucional na visita do Papa e não participando em qualquer cerimónia religiosa. 

António Costa também não é católico, mas decidiu proceder de outra maneira, acompanhando todos os cerimoniais religiosos. De resto, o primeiro-ministro já tinha decretado tolerância de ponto para a próxima sexta-feira, primeiro dia da visita do Papa, causando algum desconforto em alguns stores do PS.

António Costa terá um encontro privado com o Papa no sábado às 9 da manhã, na Casa Nossa Senhora do Rosário. Às 10 horas de 13 de maio, na presença do primeiro-ministro e do Presidente da República, Francisco preside à missa no recinto de oração do Santuário de Fátima, que começa logo com a canonização dos pastorinhos. Entre o encontro com o primeiro-ministro e a cerimónia da canonização, o Papa terá, segundo a agência Ecclesia, um «momento de oração junto ao túmulo dos pastorinhos, às 9h40m».

Na primeira visita de João Paulo I a Portugal, o então Presidente Ramalho Eanes recebeu-o a 12 de maio de 1982 no Palácio de Belém. Logo em seguida, o Papa polaco recebeu o primeiro-ministro Mário Soares na embaixada da Santa Sé.

Mário Soares, enquanto Presidente da República, recebeu João Paulo II no Palácio de Belém a 10 de maio de 1991. Na última visita do Papa polaco a Portugal, no ano 2000, o Presidente Jorge Sampaio foi recebê-lo a Figo Maduro e o católico António Guterres, então primeiro-ministro, esteve ao lado do Presidente Sampaio na cerimónia de despedida no aeroporto militar, assim como o ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama – não católico.

Já em 2010, o Presidente da República Cavaco Silva recebeu Bento XVI no aeroporto de Figo Maduro, tendo proferido um discurso. Bento VXI – agora Papa emérito – também teve uma receção nos Jerónimos ao lado de Cavaco Silva e visitou o Palácio de Belém. O então primeiro-ministro José Sócrates também se encontrou com Ratzinger na Nunciatura Apostólica, integrando uma delegação composta por Luís Amado, então ministro dos Negócios Estrangeiros, e Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência. 

Em entrevista em março à Rádio Renascença, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que iria estar em Fátima «numa dupla pele, de católico e de Presidente da República». Num depoimento sobre Fátima publicado na página da Presidência e na RR, Marcelo diz: «Fátima para mim, enquanto católico, é muito simples. Eu sou devoto de Fátima desde sempre, não separo a minha fé daquilo que é Fátima». Quando lhe perguntam sobre qual é o seu santo inspirador responde: «Nossa Senhora de Fátima, que está acima de todos os santos e é uma medianeira essencial na relação com Deus Nosso Senhor». 

«Enquanto Presidente da República Portuguesa, a dimensão é uma dimensão complementar, a ideia de Fátima como forma de projeção de Portugal no mundo», continua o Presidente. Fátima chega a «todos os continentes, todas as culturas, todas as civilizações e ultrapassa a mera visão do turismo para ser a visão do ser humano e do encontro e a encruzilhada dessas gentes».

Católico praticante, Marcelo levou a fé ao ponto de continuar a considerar o casamento indissolúvel. Apesar do divórcio civil, não é casado com a sua namorada, Rita Amaral Cabral.