Adeus tristeza, até depois

«Adeus tristeza, até depois» é o título de uma canção de Fernando Tordo, bem conhecida de muitas pessoas. 

Talvez para os mais jovens seja desconhecida e daí a curiosidade de ver esta expressão, escrita a marcador, nas escadas de acesso a um parque de estacionamento. Mas – quem sabe? – talvez tenha sido escrito há alguns anos, quando Fernando Tordo emigrou e as suas palavras nas redes sociais causaram alguma polémica…

Despedirmo-nos da tristeza é algo que raramente fazemos. Perante uma situação que nos desagrada e deixa tristes, normalmente cedemos à tristeza. Como quando, nas palavras de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa: «O dia deu em chuvoso» e, por isso, «Desde manhã eu estava um pouco triste». É uma espécie de melancolia que vai tomando conta de nós.

Porém, esta frase escrita na parede é de uma grande compreensão e denota uma atitude consciente de quem é capaz de recusar o estado de tristeza, deixando este sentimento para mais tarde.

Acredito que quem já tenha muita experiência de análise psicológica consiga realizar este exercício e alterar o seu estado de espírito. Para um monge budista, é possível que nada seja mais fácil. Mas, para quem, como é o caso da maioria das pessoas, vive com o «coração ao pé da boca» e os nervos «à flor da pele», é quase impossível ignorar um ato que gera em nós tristeza, refletindo sobre os motivos deste ato, sobre os sentimentos que gera em nós, e racionalizando para lhe reagir de forma pensada, consciente. Quem é que, na sua vida diária, faz isto?

O mais comum é uma sensação de neurastenia, tão bem traduzida nas palavras, desesperadas e exasperantes, de Florbela Espanca: «Sinto hoje a alma cheia de tristeza! / Um sino dobra em mim Ave-Maria! / (…) Gritem ao mundo inteiro esta amargura, / Digam isto que sinto que eu não posso!!…».

Normalmente, deixamos que os nossos sentimentos tomem conta de nós, sobretudo a tristeza. Como diz Valter Hugo Mãe: «Há um momento em que julgo que somos responsáveis pela nossa tristeza. Somos entregues, meio desistentes ou pouco fortes, e prolongamos uma disforia qualquer. É como desistir devagar. Tão devagar que não admitiríamos nunca estarmos a desistir».

Daí a beleza desta frase na parede e a beleza que existe em alguém se despedir da tristeza, deixando-a para trás, para partir em busca da felicidade.

Mas, mesmo conhecendo bem a frase, e os benefícios de abandonar a tristeza, acabamos por ficar parados, fechados em nós mesmos e na nossa tristeza, à espera de novos ventos de esperança, de boas novas. Mas, no fundo, o vento cala a desgraça…