EUA. Afastamento do diretor do FBI preocupa democratas e republicanos

Timing escolhido por Trump para demitir o homem que liderava as investigações às alegadas ligações da campanha republicana com a Rússia levantou suspeitas

Vinte e quatro anos depois de Bill Clinton ter demitido um diretor do FBI – William Sessions foi afastado pelo então presidente democrata, em 1993, devido à utilização indevida de dinheiros públicos -, volta a cair um responsável máximo pela agência federal de investigação policial norte-americana. James B. Comey foi demitido de surpresa, ontem à noite, pelo presidente Donald Trump, que justificou a decisão com as recomendações partilhadas pelo procurador-geral dos EUA e sua equipa. 

Em causa terão estado as declarações imprecisas de Comey, proferidas na semana passada no comité judicial do Senado, no âmbito das investigações do caso dos emails da ex-secretária de Estado e ex-candidata presidencial, Hillary Clinton. “A reputação e credibilidade do FBI sofreram danos substanciais. Não podemos defender a forma como o diretor lidou com as conclusões da investigação”, escreveu Rod J. Rosenstein, procurador-geral adjunto dos EUA,  num comunicado. Neste sentido, acrescentou o procurador-geral Jeff Sessions, o FBI precisa “de um novo começo” e de alguém que “siga fielmente as regras e os princípios do Departamento de Justiça”.

O timing da demissão do líder do FBI, que cumpria o quarto ano dos dez anos de mandato, espoletou inúmeras críticas no seio do Partido Democrata e causou estranheza junto de alguns republicanos. “Estou preocupado com o momento e a justificação da demissão do diretor Comey”, confessou o senador  Richard Burr, do GOP, responsável pelo comité de Inteligência da câmara alta do Congresso dos EUA, citado pelo  “Washington Post”.

Já a oposição sugere que a decisão repentina de Trump aumenta as suspeitas de que as ligações entre a campanha republicana e elementos próximos da Federação Russa são verossímeis. Isto porque Comey liderava igualmente as investigações sobre as alegadas interferências do Kremlin durante a corrida à presidência norte-americana. “O despedimento de Comey mostra o quão profundamente assustada está  a administração Trump com a investigação sobre a Rússia”, disse o senador democrata Tim Kaine à NPR. E na mesma linha, o congressista Adam B. Schiff afirmou que a decisão do presidente levanta “questões sérias” sobre uma eventual “interferência descarada” da Casa Branca “numa questão criminal”.

Respostas via Twitter 

A contestação de Donald Trump às críticas dos democratas fez-se através da sua arma de arremesso favorita: a conta de Twitter. Na manhã de hoje – e horas antes de receber na Casa Branca o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov -, o presidente partilhou quatro mensagens naquela rede social, nas quais acusa os democratas de virem agora mudar de opinião sobre Comey, depois de o terem criticado – devido à reabertura do inquérito a Hillary a 11 dias antes das eleições presidenciais.

“Disseram (…) que ele devia ser despedido, mas agora mostram-se muito tristes”, ironizou Trump. Relativamente ao ex-diretor, o presidente diz que o mesmo havia “perdido a confiança de quase todos em Washington” e garantiu que, por um lado, “todos lhe irão agradecer”, assim que “as coisas fiquem mais calmas” e que, por outro, o ex-diretor será “substituído por alguém que fará um trabalho bastante melhor” e que recuperará “o espírito e prestígio do FBI”.

Segundo o site Politico, Comey soube da sua demissão pela comunicação social.