As vinte estações de Assunção

A presidente do CDS recupera  um populismo familiar a alguma esquerda: promete aquilo que sabe que não terá que cumprir, pois alguém que pede vinte estações de metro só pode ter a tranquila consciência de quem vai perder uma eleição. 

Antes de Assunção Cristas ser presidente do CDS-PP, escrevi que a então candidata a líder poderia ser conservadora sem ser reacionária, liberal sem ser libertária e democrata-cristã sem ser socialista. Depois da sua ascensão, defendi que o CDS tinha a sua maior oportunidade eleitoral desde a década de 80: com um governo dependente da esquerda e um PSD fragilizado e conotado à direita, o centro estava à mercê do partido que tem centro no nome.  

A sua direção jovem e renovada, a benção de Portas e o apoio de Nuno Melo prometiam margem para mobilização interna e sucesso externo. No entanto, a popularidade de Assunção Cristas na sociedade civil não passou para as sondagens do partido e se estas podem ser historicamente descartadas pelos centristas há coisas que não podem. 

Um partido conservador não é uma reunião de pais e uma líder partidária não é uma celebridade. 

No Natal, em pleno parlamento, oferecer uns óculos ao primeiro-ministro para António Costa “ver melhor” não foi uma forma séria de fazer oposição. Hoje, em pleno parlamento, pedir vinte estações de metro para a cidade na qual é candidata autárquica não foi uma forma séria de fazer política.

Numa Lisboa transformada em estaleiro pelo atual presidente de Câmara, Cristas quer mais obras, visto que os metropolitanos não têm por hábito alargar por milagre. O maior trunfo eleitoral contra Fernando Medina é, então, jogado para o lixo. 

Deste modo, a presidente do CDS recupera um populismo familiar a alguma esquerda: promete aquilo que sabe que não terá que cumprir, pois alguém que pede vinte estações de metro só pode ter a tranquila consciência de quem vai perder uma eleição. 

Sendo assim, porque se candidatou? 

Quando leio Cristas, em entrevista, dizer que “Portas não fez assim tanto”; quando leio Cristas, na mesma entrevista, revelar conversas do Conselho de Ministros de Passos Coelho; quando oiço Cristas queixar-se da falta de cobertura da sua pré-campanha, como se as fotografias interessassem mais que os bairros sociais, entendo porque Teresa Leal Coelho nem quer sair de casa.

Hoje, Assunção e as suas vinte estações tiveram o condão de fazer Costa parecer um político responsável e de fazer Medina parecer um bom presidente de Câmara.

Isso, sim, mais que vinte estações de metro, é obra.