Religião e política

«Estamos na era da comunicação e nunca vi tanta gente sozinha».

A vinda a Portugal do chefe do Estado do Vaticano e da Igreja Católica Apostólica de Roma deve ser entendida como muito mais do que a simples visita de um chefe de Estado e do líder de uma religião (catolicismo) que em todo o mundo tem mais de 1.3 mil milhões de seguidores. 

Em Portugal há cerca de 80% de católicos, numa rede territorial organizada em vinte dioceses e quase 4.400 paróquias. 

E é bom lembrar a alguns laicista radicais que a Igreja Católica tem uma rede de apoio social insubstituível, de norte a sul de Portugal, através de centenas de instituições, na generalidade dos 308 municípios. Rede esta que realiza um trabalho notável no apoio a idosos, doentes, desempregados, pobres, sem-abrigo e muitos portugueses e portuguesas de condições sociais e económicas mais débeis.

A  vinda  do Papa Francisco deve ser celebrada, sentida e interiorizada como sendo a visita de um dos homens mais brilhantes, carismáticos e conciliadores do nosso tempo. 

Um homem, um líder, mobilizador, defensor da paz, do combate às desigualdades sociais, que tem o humanismo e o cristianismo como instrumentos de concórdia.

Um defensor da vida, no plano teológico e no plano jurídico. Que não se tem cansado de afirmar que, de certa forma, o mundo está em guerra contra a família, preferindo o egoísmo e a luxúria.

Portugal, país esmagadoramente católico, onde a prática religiosa tem aumentado desde que Francisco – ‘o Papa que veio do outro lado do mundo’ – assumiu o seu magistério de líder da igreja de Roma, deve festejar e exaltar a sua presença no nosso país, cumulativamente com a comemoração do centenário das aparições de Fátima e com a canonização dos pastorinhos.

Fátima é o altar do mundo. E não só para os católicos. Daí que seja justo destacar a lucidez do Governo e do seu primeiro-ministro de conceder tolerância de ponto à Função Pública, a propósito desta visita papal. António Costa só mostrou que percebe o país que tem, o povo que nele vive, e a importância da religião católica, não só simbolicamente mas também socialmente.

A tolerância de ponto só peca por defeito, por não ter sido concedida também ao setor privado. 

Os representantes ultraminoritários do laicismo militante e radical, ao criticarem essa medida, mais não fazem (fizeram) do que utilizar a decisão governamental como pretexto para mostrar que são contra a visita do Papa Francisco. 

Aliás, é neste tipo de acontecimentos que devemos, sem espartilhos, refletir sobre a relação entre a religião e a política. 

E dizer bem alto que ter medo da religião católica e da sua influência política, social e religiosa é perigoso, e até exemplo de um laicismo imberbe. Até gente insuspeita, do calibre de Eduardo Lourenço, tem referido que um dos problemas da Europa é fazer o contrário do resto do mundo. Ou seja, ter prática religiosa a menos (nas suas religiões tradicionais). E não é por acaso que a influência e o número de católicos têm vindo a aumentar muito mais em continentes como o americano, o africano e o asiático, em comparação com a Europa.

A ideologia laicista radical ameaça, na Europa, tornar-se quase tão má quanto o fundamentalismo islâmico. Exemplos não faltam. Mas isso fica para outras núpcias. 

O não consenso para a inclusão de referências à tradição cristã na Constituição europeia, a obsessão pelo véu, pelo burquini e pela retirada dos símbolos religiosos de vários locais, são apenas exemplos de algum fundamentalismo laico, que muitas vezes dá origem a Charlies Hebdos, que se transformam em pretextos para o crescimento do fundamentalismo islâmico, destro e fora de portas do território e das fronteiras europeias.

olharaocentro@sol.pt