Difícil investimento na dívida pública portuguesa

Procura de diversificação de credores é limitada pela notação financeira da república e pelas incertezas em relação ao futuro económico do país. 

O Governo tem andado pelo mundo à procura de investidores para a dívida portuguesa. Depois de na semana passada o ministro das Finanças ter admitido uma emissão de dívida em moeda chinesa, o primeiro-ministro esteve esta semana no Catar à procura de diversificar os credores. Mas a atual conjuntura e as incertezas sobre o futuro da economia portuguesa pesam sobre as eventuais decisões de investimento.

«A dívida pública portuguesa enfrenta um problema do lado da procura, por não ter um comprador natural nesta fase», resume Steven Santos, do banco BIG. Os investidores mais importantes que existem no mercado financeiro internacional são os bancos centrais de países com reservas muito grandes como o Banco Central da China ou o Banco Central do Japão e os fundos soberanos de países como a Noruega ou a Arábia Saudita.

Estes investidores têm biliões de euros mas, lembra Steve Santos, «não podem comprar dívida portuguesa dado que os seus mandatos os impedem de comprar junk» que é a atual classificação do rating da República portuguesa.

Para além disso, aponta Filipe Silva, do Banco Carregosa, os investidores «institucionais seguem todos os dados da economia portuguesa, prestam muita atenção ao que faz o BCE e reagem às previsões para a economia portuguesa e para a evolução dos juros».

Nesta semana Portugal emitiu 1,25 mil milhões de euros em dívida pública, garantindo metade do financiamento que pretende obter este ano com obrigações. A procura quase duplicou a a oferta e os juros foram mais baixos que nas emissões anteriores a cinco e dez anos. Na quinta-feira a Comissão Europeia previu uma redução do défice, mas alertou que «os riscos para as previsões orçamentais estão ligados às incertezas que rodeiam o cenário macroeconómico, às medidas de apoio à banca e ao volume limitado de medidas de consolidação orçamental».

Teste de credibilidade

No entanto, enquanto «o BCE estiver em cena não estamos realmente expostos ao mercado de dívida», diz Eduardo Silva. Mas com a normalização «monetária perto de estar em cima da mesa, a credibilidade será novamente testada. A volatilidade nas emissões será maior e vai existir uma correlação muito direta entre a performance económica e os juros», acrescenta o gestor da XTB.

Daí que neste contexto seja «muito oportuno procurar novos investidores para a dívida pública portuguesa», argumenta Steven Santos.

No início da semana, em visita oficial ao Catar, o primeiro-ministro António Costa revelou estar a «trabalhar com investidores do mundo árabe» na perspetiva de obter «melhores condições de mercado».

A «diversificação dos credores surge como forma de aumentar a procura do ativo por forma a baixar os juros. É sempre melhor ter uma base alargada e diversificada de credores», explica Eduardo Silva.

Moeda chinesa

Também neste objetivo do Governo de diversificar os credores, Portugal poderá tornar-se o primeiro país da zona do euro a emitir títulos de dívida pública em moeda chinesa. «É uma forma de alargar a nossa base de investidores e de atrair financiamento» disse o ministro das Finanças, Mário Centeno, na semana passada no final de uma visita à China «Uma eventual emissão em yuan é um convite claro aos investidores chineses, que, ao comprar títulos na sua moeda local, não precisariam de incorrer em risco cambial. Além disso, o banco central da China tem travado a fuga de capital do país, pelo que uma emissão em yuan iria ao encontro da vontade atual da China e da sua política monetária», analisa Steven Santos.

Rating

Só que a captação de capital na China estará dependente da evolução do rating soberano português, atribuído pelas três maiores agências de notação financeira – Moody’s, Standard and Poor’s e Fitch –, que continuam a colocar o rating do país como junk (lixo).

Já este ano todas elas fizeram a avaliação da notação este ano e mantêm a perspetiva. Daí que «não é possível fazer previsões a longo prazo com confiança, porque há muitas variáveis económicas mas sobretudo políticas a ter em conta», considera Filipe Silva.