Montepio caiu no buraco GES

Banco emprestou 150 milhões ao GES entre 2010 e 2014 mas garante que recuperou toda a verba. Financiamento está a ser investigado pelo BdP que alertou tarde para o risco.

A concessão de créditos do Montepio ao Grupo Espírito Santo (GES) está na mira do Banco de Portugal (BdP) que abriu um inquérito aos valores concedidos, por considerar que a administração de Tomás Correia os concedeu quando já sabia dos problemas do Banco Espírito Santo (BES). Em causa estão os empréstimos realizados entre 2010 a 2014 no total de 150 milhões de euros – 90 milhões para a Rioforte e 60 milhões para o Espírito Santo Hotéis – que agora levantam dúvidas mas na altura foram autorizados e todos eles foram sujeitos a escrutínio por parte do órgão regulador, através do ETRICC2 – exercício transversal de revisão das imparidades dos créditos concedidos a determinados grupos económicos – elaborado pela auditora PwC a pedido do BdP.  

Nessa análise, ficou concluído que não existiam motivos para a constituição de imparidades, revela o documento a que o SOL teve acesso. «Relativamente às entidades operacionais Rioforte Portugal, Espírito Santo Unidades de Saúde e de Apoio à Terceira Unidade, consideramos que os planos de negócios analisados demonstram que estas entidades têm capacidade para gerar cash-flows e assim fazer face ao serviço da dívida», diz o documento. 

Esse documento diz mesmo que a dívida do GES à Caixa Económica é quase detida na totalidade pela Rioforte, a restante percentagem (9,3%) encontra-se «insignificativamente» alocada em duas operações à Opway Engenharia e à Espírito Santo Unidades de Saúde e de Apoio à Terceira Idade.

No entanto, numa carta enviada a 23 de julho de 2014 e recebida a 28 de julho, ou seja, cinco dias antes da resolução do BES, a versão do Banco de Portugal muda radicalmente e dá a indicação à Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) para constituir imparidades no mínimo em 50% do total da exposição: 75 milhões de euros. Segundo a carta a que o SOL teve acesso, trata-se «de uma avaliação numa perspetiva conservadora e não relevando, para esse efeito, garantias obtidas ou valores mobiliários emitidos pelas entidades do GES», pedindo ainda à instituição financeira para fazer um inventário atualizado das exposições, em base consolidada, com indicação da instituição mutante e da entidade mutuária. 

Uma ordem que, no entanto, chegou tarde, uma vez que, a Caixa Económica já tinha optado no primeiro semestre desse ano em constituir imparidades no montante de 106,5 milhões de euros, ou seja, 71,5% sobre o total da exposição e bem acima do que veio mais tarde a ser estipulado pelo órgão regulador. 

De acordo com o mesmo documento a que o SOL teve acesso, os financiamentos concedidos não só receberam luz verde da análise de risco como apresentavam garantias. A exposição à Rioforte era de 60 milhões, mas tinha como contrapartida um depósito no mesmo valor em outras empresas do grupo GES de forma a garantir a liquidez da operação.

Foi concedido um outro empréstimo à Rioforte no valor de 30 milhões e, em troca, foi dada como garantia ações do grupo Monteiro Aranha, entidade cotada na bolsa brasileira, cuja participação foi avaliada em 75 milhões de euros. Estas ações continuam na carteira da CEMG pelo valor de 78 milhões de euros com regular distribuição de dividendos.  
Já o financiamento à ES Hóteis no valor de 60 milhões de euros tinha como garantia uma carta compromisso. Uma operação que, segundo o mesmo documento, teve perdas marginais, em resultado ao acordo obtido com os tailandeses da Minor Hotel Group, que comprou a cadeia hoteleira em Portugal, no âmbito do Plano de Revitalização dos Hotéis Tivoli.

O acordo foi alcançado em novembro de 2015 e permitiu aos tailandeses avançar com esta aquisição. O banco acabou por fechar o ano de 2014 com perdas de 187 milhões de euros. Ainda assim, uma melhoria face aos resultados obtidos no ano anterior em que registou 298,6 milhões de euros de prejuízos. Nessa alturas, as imparidades da CEMG atingiram os 643,2 milhões de euros, um aumento de 245,9 milhões face ao ano anterior.