Marcelo, e a mania do controle

Ouvi ontem as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, a afirmar que o crescimento económico de Portugal terá de ser “claramente superior” a 2% em 2017, e não gostei nem um pouco do que ouvi. Por duas razões.

Em primeiro lugar, não percebo porque é deve ser o Presidente da República a decretar quanto é que deverá ser o crescimento económico. A Constituição não lhe atribui a função de guardião supremo do estado da economia. Marcelo está apenas a divertir-se, tentado criar um facto político, como só ele sabe fazer.

Mas, mesmo se por hipótese absurda, controlar o crescimento económico estivesse entre as suas obrigações, o objetivo de Portugal obter em 2017 um crescimento do PIB claramente superior a 2% é muito difícil.

Desde o ano 2000, isso só aconteceu em dois anos: em 2000 (3,8%) e em 2007 (2,5%). Duas vezes conseguidas em dezassete observações dá conta da dificuldade em atingir esse objetivo. Mesmo que no início do ano, o primeiro trimestre tenha superado pela positiva todas as previsões, crescer 2,2 ou 2,3% no ano todo não será um objetivo fácil de alcançar.

Alguns de entre nós são um pouco precipitados. O primeiro trimestre foi muito bom para a economia, por isso é natural que as previsões sejam revistas em alta, mas de preferência sem exageros. Prevê-se que na segunda metade do ano a economia portuguesa cresça mais devagar, e não valerá a pena passar da euforia à depressão. Continuaremos a crescer, mas quanto mais em cima estamos mais custoso se torna subir mais.

Enfim, é este o Presidente da República bipolar que temos. Numa noite dá o seu melhor e distribui comida quente entre os sem abrigo, no dia seguinte deixa-se tentar pela maldade, e procura entalar o governo de um dos seus antigos alunos diletos entre a espada e a parede.

 Talvez no início de 2018 o PSD já tenha um novo líder, que poderá ser um novo primeiro-ministro, quem sabe? Na minha opinião, Marcelo tem de controlar tudo, e de estar todos os dias no centro das atenções