Marcelo quer governo com “os pés na terra”

Presidente da República deixou recados para o governo e para o PSD. “Não vale a pena negar a realidade”

Marcelo quer governo com “os pés na terra”

O Presidente da República lançou recados para o governo socialista e para o PSD. Marcelo Rebelo de Sousa nomeou “três atitudes” que se devem evitar: “perder tempo a discutir quem teve mérito” no crescimento económico, “negar a realidade, por muito que isso custe”, e “o deslumbramento”.

O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa foi feito um dia depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter revelado que a economia portuguesa cresceu 2,8% no primeiro trimestre de 2017 face ao mesmo período do ano passado. 
Os dados do crescimento deixaram os socialistas eufóricos e abriram uma discussão sobre se esta realidade se deve às reformas feitas por Passos Coelho ou às políticas de António Costa.

O PSD garante que o crescimento económico se “deve às reformas realizadas pelo anterior governo” e “à conjuntura internacional”.

O i questionou o coordenador do PSD na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças sobre se o governo socialista não tem mérito neste resultado. “É mérito do governo não estragar o que estava a ser feito”, responde Duarte Pacheco. 

O social-democrata garante que o crescimento se deve “a algumas das reformas que foram desenvolvidas, nomeadamente no mercado laboral, e às apostas no setor do turismo e no setor exportador que continuam a dar frutos. As bases estavam lançadas”.

Euforia excessiva

Os avisos de Marcelo foram ouvidos pelo PSD, mas Duarte Pacheco prefere destacar e “subscrever” o aviso do Presidente da República de que é preciso “cuidado com as euforias”. 

O recado dirigido ao governo agradou ao PSD. Marcelo fez um apelo para que se evite a “euforia excessiva” para não se perder “a noção” de que se deve “ter os pés na terra”. 

Além de avisar que é preciso “evitar o deslumbramento”, Marcelo apelou aos partidos para não perderem tempo “a comparar méritos”: “Todos tivemos mérito de tudo e os portugueses são os grandes ganhadores desta viragem”, lembrou. 

Marcelo quis desdramatizar o ambiente político e garantiu que “a vida é assim”. “Tantos de nós trabalham por um objetivo e depois veem aqueles que nos sucedem – os nossos filhos ou os nossos netos – acabarem, também por seu mérito, por atingir realidades que nós não conseguimos atingir.” Outro recado dirigido ao principal partido da oposição foi para evitar “negar a realidade”, porque “essas realidades existem e são boas. Por muito que custe”.
Marcelo defendeu que “a economia está a virar”. “Já tínhamos essa intuição há seis meses e, mais claramente, há quatro meses, mas temos hoje a certeza de que está a virar”, acentuou.

GOVERNO CONFIANTE

António Costa e o PS viram no crescimento económico a prova de que o rumo seguido pelo governo é o mais correto. O primeiro-ministro disse segunda-feira, dia em que os números foram libertados pelo INE, que os dados “confirmam que a prioridade que foi dada à reposição de rendimentos das famílias portuguesas não comprometeu a competitividade, pelo contrário, reforçou a coesão e a confiança, que são indispensáveis ao crescimento”.

“Temos boas razões para estarmos confiantes”, disse António Costa, justificando que “aquilo que os dados têm consistentemente vindo a demonstrar desde meados de 2016 é que o ciclo de desaceleração da economia foi invertido e tem tido uma aceleração sustentada.” 

O ministro da Economia referiu ontem que o crescimento da economia “é equilibrado” e “resulta de um aumento das exportações, de um aumento do investimento e também tem uma componente do aumento de consumo”. 
Manuel Caldeira Cabral considerou que os números divulgados esta semana superam “todas as expectativas”. “Foi importante dar mais confiança aos consumidores, com reposição de rendimentos, mas é igualmente importante dar mais confiança aos investidores. Tudo isso resultou num crescimento que é equilibrado”, afirmou o ministro da Economia, em Matosinhos, na 14.a edição do Encontro Nacional de Inovação.