João Soares apoia José Adelino Maltez na eleição para grão-mestre da maçonaria

João Soares acha que a maçonaria tem estado “aquém” do que deveria ser o seu papel. Maltez pode trazer “um outro fulgor”

Já é, na realidade, “um velho maçon”. Entrou para a maçonaria muito jovem, quando tinha 24 anos, no fim do ano inesquecível de 1974. Tem uma característica raríssima entre os “irmãos”: assumiu sempre que pertencia à maçonaria.

Nas eleições para grão-mestre que se realizam em junho, o ex-ministro da Cultura João Soares decidiu apoiar o candidato José Adelino Maltez, professor universitário, politólogo.

“Gosto da ideia de ter como grão-mestre um académico”, diz o deputado socialista ao i.

João Soares pensa que o politólogo José Adelino Maltez pode dar ao Grande Oriente Lusitano “um outro fulgor”. “A maçonaria pode desempenhar um papel interessante na sociedade e tem estado aquém”, considera.

José Adelino Maltez pode, segundo Soares, mudar o estado das coisas: “É um académico, é um homem desempoeirado, é um intelectual”.

“O Grande Oriente Lusitano tem um grande património histórico que deve ser valorizado, tem um museu. [O Palácio Maçónico] tem que fazer parte dos circuitos de referência da cidade, é um palácio muito bonito”, diz o ex-ministro da Cultura, que defende que o Grande Oriente Lusitano se deve “afirmar como uma das instituições de Lisboa no plano cultural”. Se for eleito grão-mestre, José Adelino Maltez estará em melhores condições de conseguir esse objetivo.

Para João Soares, as eleições para grão-mestre que vão acontecer em junho “não são um combate fratricida nem um combate feroz”. “Sou muito amigo de Luís Vaz [historiador que integra a candidatura de José Adelino Maltez a grão-mestre da maçonaria, que tem estado a fazer a biografia de Palma Inácio]. Já conhecia o José Adelino Maltez”, afirma.

João Soares lembra-se de ter participado numa sessão branca (uma cerimónia maçónica em que podem participar pessoas que não fazem parte da maçonaria, os “profanos”, segundo o léxico maçónico) com José Adelino Maltez. Afirma que apoia o professor catedrático “em nome da ética republicana” – “Isto apesar de já ter estado num debate com ele em que me foi apresentado como monárquico”.

Da Legião até 1974

O palácio maçónico, que fica no Bairro Alto, em Lisboa, na rua do Grémio Lusitano, esteve até ao 25 de abril ocupado pela Legião Portuguesa, uma organização da ditadura. João Soares lembra-se de ainda ter visto no sótão do palácio, por cima de uma das mais importantes salas onde se realizam os rituais, caixotes de documentos pertencentes à Legião Portuguesa.

Até à proibição da maçonaria pelo regime, o palácio – que data do século XVII – era a sede do Grémio Lusitano, que congregava as atividades maçónicas em Portugal. Em 1938, quando Salazar proibiu a maçonaria, tomou posse da sede do Grémio Lusitano e instalou lá um dos braços políticos da ditadura.

Nessa altura, os maçons passam à clandestinidade. O arquivo maçónico acabou por ser salvo por uma porta secreta que dava acesso a uma tipografia – a Minerva Penisular, propriedade da instituição maçónica – e o arquivo foi repartido por vários “irmãos”. Só depois do 25 de abril viria a ser todo reunido.