A ARCO não acaba aqui

A Cordoaria Nacional continua até amanhã aberta ao público com a segunda edição da feira internacional de arte contemporânea ARCO Lisboa. Mas para lá de Belém há todo um programa de exposições paralelas pela capital e fora dela que não se esgota nestes dias. Nos museus, nas galerias… e até numa carpintaria abandonada.

A ARCO não acaba aqui

Isto não é a ZDB, ou será a ZDB sem ser. No 41A da Calçada do Tijolo, no Bairro Alto, Natxo Checa foi dar com uma antiga carpintaria abandonada que há de entrar em obras para ser um hotel. Mas enquanto não é, será mais um espaço a ocupar pela Galeria Zé dos Bois, que lá inaugurou na quarta-feira, em paralelo com a segunda edição da ARCO Lisboa, que decorre até domingo na Cordoaria Nacional, em Belém, Lua Cão, instalação de um conjunto de vídeos da dupla de artistas Paiva Gusmão e Pedro Paiva e de Alexandre Estrela. Programa para umas 12 horas, mais coisa menos coisa. A exposição foi pela primeira vez apresentada em São Miguel, no ano passado, no festival Walk & Talk, e chega quase um ano depois a Lisboa.

O ponto de partida para Lua Cão, tradução à letra de moon dog, fenómeno ótico que faz com que a lua apareça duplicada, junta mais de uma dezena de filmes dos três artistas, com curadoria de Natxo Checa, e parte de Viagem ao Meio, de Alexandre Estrela – 600 metros de película desenrolado pela lama do meio até uma das pontas de um túnel aberto na década de 1930 na Lagoa das Sete Cidades, depois recolhidos e revelados para projetar em sobreposição com um vídeo feito pelo artista enquanto percorreu o túnel de uma ponta à outra – e de Papagaio, registo quase documental de um ritual de possessão captado por João Maria Gusmão e Pedro Paiva em São Tomé e Príncipe, ritual em que o espírito dos mortos parece entrar nos corpos dos vivos, que os artistas filmaram e a quem entregaram a câmara numa espécie de teatro de mortos-vivos.

Também no Bairro Alto, que no programa de exposições paralelas divulgado pela ARCO aparece agrupado com o Príncipe Real e no Chiado, continua, ainda na ZDB (Rua da Barroca, 59) Espaço de Fluxos, de Diogo Evangelista com curadoria de João Laia, que comissariou também a nova secção Opening da ARCO Lisboa, dedicada às galerias que, com menos de sete anos de existência, não podem ainda concorrer à secção principal da feira. 

De Xabregas a São Lázaro

Na zona oriental, onde esta semana foi inaugurada a Galeria Francisco Fino, uma das galerias selecionadas para o Opening da ARCO, com Morphogenesis, exposição com obras de todos os artistas representados pela galeria com curadoria também de João Laia. Na mesma rua, na Baginski, continua uma exposição com novos trabalhos, pinturas e colagens sobre papel de Ana Vidigal e, já em Xabregas, a Galeria Filomena Soares, inaugurou na semana passada Amar-te os Ossos, de Igor Jesus, para ver até setembro. Segunda exposição individual do artista nesta galeria, apresenta o resultado de uma investigação sobre a colonização do corpo a partir do icónico Salò, Ou os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini, desenvolvida em residência na Künstlerhaus Bethanien, em Berlim, em que o artista foi em busca da forma como «os corpos e os sujeitos são produzidos, apropriados e colonizados pelos próprios dispositivos de captação e criação de imagens». No processo, Igor Jesus foi à procura dos atores que desempenhavam os papéis de escravos, pesquisa da qual resultaram encontros e conversas com os atores Umberto Chessari e Bruno Musso, cujos corpos encontramos nesta exposição.

E as inaugurações continuam. Esta tarde, por exemplo, abre ao público uma nova exposição nas Carpintarias de São Lázaro (Rua de São Lázaro, 72), inserida na programação da Lisboa Capital Ibero-americana de Cultura, do chileno Alfredo Jaar, que nesta Shadows presta uma homenagem ao fotógrafo sueco Koen Wessing que em 1978, em Esteli, na Nicarágua, captou o momento em que um grupo de camponeses carregavam o corpo de um deles morto pela guarda nacional do ditador Somoza.