Os homens do avental estão em todo o lado

A maçonaria fascina-me, vá lá saber-se porquê.

Deve ter a ver com a História, tanto a política como a de arte. Uma vez entrei, em trabalho, no palácio maçónico, ali ao Bairro Alto, e foi uma experiência absolutamente fascinante – até porque tive a imensa sorte de ter encontrado por acaso António Arnaut, antigo-grão mestre, fundador do Serviço Nacional de Saúde e hoje presidente honorário do PS e de o ter tido como guia inesperado da minha visita ao museu maçónico. Como «profana» (a linguagem maçónica é um portento de preciosidades), visitar o templo José Estêvão foi maravilhoso – é, como me dizia esta semana um maçon, uma quase perfeita síntese entre uma Igreja Católica e um tribunal.

Na realidade, foi preciso ter conhecido vários maçons de perto para ultrapassar um preconceito que eu tinha contra a maçonaria, que via essencialmente como uma organização de tráfico de influências. Claro que a maçonaria também é isso. Traficam-se influências, como se traficam em todas os lugares onde existem homens e mulheres que se unem por laços de qualquer espécie, sejam de amizade ou outros. 

Acompanhei mais ou menos de perto, como jornalista, nos anos 90, a cisão do Grande Oriente Lusitano que levou à criação da Grande Loja Regular de Portugal. Na altura, entrevistei para o jornal onde trabalhava, o Público, o grão-mestre da nova obediência, o médico Fernando Teixeira, já falecido. Quando o questionei sobre a história do favorecimento dos «irmãos», ele respondeu-me mais ou menos assim e cito de memória: «Sou médico. Se tiver ali um colega meu na fila deixo-o passar à frente. É a mesma coisa com os irmãos maçons». Na mais estrita ‘ética republicana’ isto não é normal, mas é um ritual antigo e aceite em todos os lugares onde existem homens e mulheres.

Não vale a pena fazer da maçonaria bode expiatório de uma sociedade onde a falta de transparência, o favoritismo e o amiguismo são valores que têm primazia sobre a «igualdade» que em conjunto com a «fraternidade» e «liberdade» são valores da maçonaria. Mas era bom para a maçonaria tornar-se mais aberta e que os maçons se assumissem – como fizeram todos os que aceitaram dar o seu testemunho na página do lado. Infelizmente, muitos mais recusaram.