Em estado de graça

Este nosso Portugal vive em estado de graça! Andamos ‘inchados’ de orgulho com tantos sucessos recentes, alguns a nível internacional, todos depois da tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa.

Admirador de Marcelo, ninguém me convence que os astros não o abençoam na sua Presidência – desde a conquista em 2015 do Europeu de futebol (pela 1.ª vez!) e Bota de Ouro de CR7  (pela 4.ª vez) até à vitória esmagadora de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão (pela 1.ª vez) e, sobretudo, pela beatificação de Francisco e Jacinta Marto em Fátima com a divina presença de Francisco I, celebrando os 100 anos das aparições, tudo parece correr de feição para o nosso país. Para alguns, como eu, ainda pelo Tetra do ‘meu’ Benfica.

Mas, sinceramente, depois destes assuntos que atraem multidões, o mais importante para todos nós foi a notícia de que, neste 17 de Maio, Portugal se financiou a juros negativos (ainda mais), na sequência das notícias de um crescimento homólogo face ao 1º trimestre de 2016 de 2,8%. Qualquer que seja a cor política dos portugueses, é uma notícia verdadeiramente relevante e que, esta sim, nos pode dar esperança de um porvir menos apertado. 

Regresso a Marcelo que, num esforço de união, disse ‘a quente’ que mais importante que saber de quem são os méritos – numa clara alusão à divisão entre PSD e PS – são os resultados de todos os que estão envolvidos. Com uma tirada certeira, matou a disputa que se avizinhava. Por um lado, exprimiu um agradecimento a quem trouxe o país de um resgate (Passos Coelho) e a quem teve o mérito de continuar (António Costa). 

Agregou todos neste agradecimento, como anda diariamente a agregar portugueses num afã que faz confusão a quem se habituara a presidentes distantes. Desde assistir a eventos mais ou menos importantes até andar com os sem-abrigo, de facto Marcelo faz jus a uma graça popular: «Se Deus está em toda a parte, Marcelo já esteve». Obviamente, com um enorme risco: a sua palavra perde eficácia ao misturar declarações diárias tão importantes como a que supra refiro com outras mais corriqueiras em que o silêncio deveria ser regra. Mas congratulemo-nos com o importante: o crescimento da economia e o financiamento concluído a juros negativos.

Não posso deixar também de me referir a Salvador Sobral. Tantos lhe cantaram loas, eu apenas serei mais um. 

Foram anos e anos a fio a ir ao Festival da Eurovisão com cantigas belíssimas de letra e melodia, mas o único que saiu da mediocridade classificativa foi o Salvador. Seja por ser simpático e falar bem inglês, seja por ter deixado uma nobre mensagem sobre refugiados – um flagelo mundial a que todos assistimos de forma mais ou menos inoperante -, ele ganhou. 

A receção que teve no aeroporto à chegada foi o reflexo de um povo que o passou a idolatrar por um feito único que daqui por cerca de 50 anos todos irão recordar. Uma canção simples de dois irmãos que deram a Portugal e aos portugueses a oportunidade de se sentirem vencedores – num sentimento de nacionalismo que esta Europa agora unida nunca conseguirá dissipar. Tal como no desporto… até aqui o único palco onde os sentimentos de nacionalidade se manifestavam de forma veemente.

Difícil para mim não escrever sobre a alegria que tive de ser Tetra – foram quase 54 anos de sócio à espera deste momento único! 

Aqui também a pertença – desta vez a uma coletividade desportiva – agregou um conjunto de pessoas unidas num ideal. A equipa que representava essa união venceu mais um jogo, dando um título tão ansiado. Uma vitória de muito trabalho, muito sacrifício, mas sobretudo fruto de um planeamento a prazo que deveria servir de modelo a muitas organizações. 

Este Benfica mereceu o título, da mesma maneira que outros campeões o mereceram. Tenho pena que tantas vezes o sentimento mesquinho de inveja prevaleça sobre o reconhecimento do mérito dos vencedores. Apenas no futebol? Não!

Infelizmente, pior que no futebol, na política, como demasiadas vezes se vê e ouve. Tal como diz Marcelo, este crescimento económico de 2,8% tem mérito de muitos – de empresários, sobretudo. Mas também dos políticos (todos!) que criaram condições para este crescimento que todos desejamos sustentado ou seja estrutural.