Portugueses querem vacinas obrigatórias

Barómetro sobre Saúde – SOL revela que 94% dos portugueses querem que o Plano Nacional de Vacinação seja obrigatório. Hipótese tem sido afastada pela tutela, mas vai voltar a ser discutida no Parlamento. 

A maioria dos portugueses defende que as vacinas incluídas no Plano Nacional de Vacinação (PNV) deviam ser obrigatórias. Esta é uma das conclusões da edição de maio do barómetro sobre Saúde do SOL. O estudo de opinião da Consulmark2 revela que 94% dos inquiridos, uma amostra representativa da população com mais de 15 anos, entende que não devia ser possível recusar as vacinas recomendadas a nível nacional no PNV e só 4% são contrários à obrigatoriedade. A esmagadora maioria (96%) também reconhece que as vacinas são importantes para a saúde pública.

O tema da vacinação foi suscitado em Portugal na sequência de um surto de sarampo, que fez a primeira vítima mortal no país desta doença no espaço de 20 anos. A jovem de 17 anos não estava vacinada, sendo que a família alegou junto dos serviços de saúde que a adolescente, em criança, tinha sofrido um choque anafilático ao receber uma vacina. Como sofria de outros problemas de saúde, terá tido conselho médico para não fazer as vacinas. Mas o surto começou com um bebé, que falhou a data da primeira dose da vacina contra o sarampo por estar com uma otite e que acabou por ser contagiado por um familiar a viver no estrangeiro. Embora estes não sejam casos típicos de famílias antivacinação, esta tendência tem sido ligada ao reaparecimento do sarampo na Europa. Segundo o último balanço do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, divulgado ontem, os casos continuam a aumentar, verificando-se a situação mais problemática na Roménia. Neste país, registam-se 5.728 casos de sarampo desde janeiro do ano passado e já houve 25 mortes. A Itália é o segundo país mais afetado: só este ano já foram reportados 2.395 casos e a falta de imunização entre as pessoas afetadas é notória: 89% dos doentes não estavam vacinados e 7% tinham recebido apenas uma dose. 

Em Portugal, até 16 de maio, verificaram-se 29 casos de sarampo, isto depois de três anos sem haver registo da doença no país – o que, aliás, tinha levado a Organização Mundial da Saúde a declarar o sarampo erradicado em Portugal.

Entre os doentes portugueses, 59% (17 pessoas) não estavam vacinados. Outra particularidade que tem sido detetada nos surtos a nível europeu é o facto de estar a atingir muitos profissionais de saúde. Em Portugal, 13 das pessoas que apanharam sarampo foram contagiadas enquanto estavam a trabalhar em hospitais e centros de saúde.

O parlamento já aprovou resoluções do PCP, PSD, CDS e Bloco de Esquerda para que seja reforçada a sensibilização e articulação com as escolas mas também para que haja maior adesão dos profissionais de saúde à imunização. Ainda assim, o Governo tem descartado a hipótese de se avançar para um cenário de obrigatoriedade das vacinas, até porque Portugal tem níveis de adesão elevados ao PNV. Ainda assim, o assunto tornará a ser discutido no Parlamento, já que no final de abril deu entrada na Assembleia da República uma petição que pede que esta hipótese seja ponderada. A iniciativa reuniu mais de 11 mil assinaturas. Margarida Vaqueiro Lopes, autora da petição, disse ontem ao SOL ainda não ter informação sobre quando será agendada a discussão. 

Esta quinta edição do barómetro de Saúde do Sol, com entrevistas realizadas na primeira semana de maio, revela que as impressões dos portugueses sobre o Serviço Nacional de Saúde se mantêm estáveis e numa nota positiva, com a esmagadora maioria  considerar a qualidade do serviço prestado boa ou excelente. Em relação ao inquérito de abril, cresceu também a percentagem de utentes que considera que a resposta do serviço público de saúde foi mais rápido do que o esperado.