A queda do prestígio da banca

Na última década a banca em Portugal perdeu um quinto dos seus trabalhadores. A automação tecnológica dispensa muitos funcionários bancários – e agências. Cada vez mais gente se relaciona com o seu banco pela internet.

Também se trata de cortar custos, pois a banca perdeu rendibilidade, muito por causa das baixíssimas taxas de juro que predominam desde há anos. E perdeu prestígio, depois de colapsos bancários que, em vários casos, foram ao bolso dos contribuintes. Não aconteceu só em Portugal – recorde-se o Royal Bank of Scotland, cuja sobrevivência exigiu um «custo escandaloso» para os contribuintes britânicos, na opinião do semanário The Economist.

Vários escândalos mancharam a reputação dos bancos, antes e depois da crise global. Em Portugal bem os conhecemos. Na Europa lembremos a manipulação da taxa libor, por exemplo. E grandes bancos mundiais sofreram multas milionários impostas pelas autoridades americanas.

A chamada crise do subprime, crédito hipotecário de alto risco vendido pelos bancos em pacotes de títulos, pôs à vista a irresponsabilidade com que bancos americanos concediam empréstimos para compra de casa a quem não tinha meios para os pagar. A coisa funcionou quando os preços da habitação subiam, mas a bolha rebentou com a queda desses preços.

O subprime foi um problema americano, estendido a quase todo o mundo pela venda dos tais pacotes de títulos. Mas entre nós o crédito malparado atingiu níveis preocupantes, apenas superados na UE pela Itália. Há anos que o Governo português fala em criar um esquema para lidar com o malparado, mas as soluções tardam a surgir. Não há milagres.

As dificuldades dos bancos aumentaram com as crescentes exigências de maior capitalização. O Estado Federal americano foi mais lesto e mais generoso na recapitalização dos bancos e outras empresas em apuros. A Europa atrasou-se na recuperação dos seus bancos, até porque a zona euro sofreu uma segunda crise com o problema das dívidas dos Estados, designadamente na Grécia, Irlanda e Portugal, mas também em Itália e Espanha.

 Portugal enfrentou especiais dificuldades na recapitalização bancária, visto predominar por cá aquilo que já designei por «capitalismo sem capital». Um problema resultante, em parte, das exíguas indemnizações concedidas pelo Estado português aos accionistas dos bancos nacionalizados em 1975.

 Para além de mais capital, os reguladores bancários impõem agora novas restrições à actividade dos bancos. É significativo que, na América de Trump (que prometeu diminuir as regulamentações) se volte a falar na reintrodução de uma lei de 1933, que separava totalmente a actuação dos bancos comerciais daquela que é própria dos bancos de investimento e de negócios. A lei foi revogada em 1999, era Presidente dos EUA Bill Clinton.

O argumento para essa separação tem a ver com o facto de a cultura de alto risco, de lucro fácil e rápido, própria dos bancos de investimento, ter nas últimas décadas contaminado a cultura dos bancos comerciais.

Sintoma também da queda do prestígio da banca é o facto de, nos EUA, diminuir nos últimos anos para quase metade o número de diplomados que saiem das universidades para o sector financeiro (que não inclui apenas os bancos). Agora, o que atrai os melhores alunos é o sector tecnológico.