Santana Lopes. “Reabilitação numa cidade como Lisboa é sempre um trabalho inacabado”

Provedor da Santa Casa da Misericórdiade Lisboa desde 2011, Santana Lopes destacaos projetos mais emblemáticos em cursona cidade e sublinha que haverá sempremuito mais por fazer.

São muitos os projetos em curso na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), quer na vertente dos cuidados de saúde quer nas respostas comunitárias à população – algumas com princípios inovadores como a preocupação como o convívio de utentes de diferentes gerações, que se acredita contribuir para o bem estar tanto dos mais velhos como dos mais novos. Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa desde 2011, revela que está previsto um investimento de 25 milhões de euros nos diferentes projetos que apresentamos nestas páginas – são uma aposta na melhoria da intervenção mais do que um mero custo, sublinha. Com outros projetos em carteira, Santana Lopes reconhece que o trabalho de quem dirige uma instituição com mais de 500 anos de história, em particular numa cidade como Lisboa, é sempre uma obra inacabada. Preparar o futuro é o objetivo.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi a primeira misericórdia fundada no país, em 1498. Como é estar à frente de uma instituição com cinco séculos de história? 

É uma grande responsabilidade e um desafio impressionante. Estamos nas instituições para fazermos o que somos capazes de fazer por elas. Numa instituição com mais de 500 anos de história, onde já estiveram muitos antes de nós, como funcionários e dirigentes, que deram tudo o que puderam, temos a noção de que podemos fazer a diferença na vida daqueles que mais precisam e isso é algo que tem muito significado. Mas, como costumo dizer, temos que ter sempre presente que somos apenas uma pequena parte da imensa história da Santa Casa. 

O património é uma prioridade? 

Quando assumi as funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa defini, como eixo prioritário de atuação, a aposta na valorização e rentabilização do Património, com o objetivo de encontrar soluções para as necessidades da população e para a rentabilidade e sustentabilidade dos imóveis da Santa Casa. Grande parte do edificado da Santa Casa é legado à instituição por pessoas que reconhecem o trabalho que aqui é feito. Temos a obrigação de cuidar do nosso património e colocá-lo ao serviço das pessoas.  

Sempre teve essa noção ou continua a descobrir espaços que poderiam ser reabilitados ou dar lugar a novos projetos?

Há sempre novos espaços por descobrir e novos projetos por realizar. Quando falamos de reabilitação urbana numa cidade como Lisboa (e não só), estamos sempre perante um trabalho inacabado. Terminam-se uns projetos e logo se começam outros. 

Com todas as empreitadas em curso, qual será o montante investido pela Santa Casa em património em 2017?

Estimamos investir mais 25 milhões de euros para novas empreitadas a iniciar ao longo deste ano. 

Comparado com anos anteriores, este valor representa um investimento maior por parte da Santa Casa? 

Com o Estado a recuar cada vez mais e as necessidades sociais a aumentarem, a Santa Casa foi intensificando a sua intervenção durante o período mais complicado que o país atravessou. Por um lado, com uma resposta assertiva ao aumento significativo dos pedidos de apoio que nos chegam diariamente nas diferentes áreas de atuação, especialmente dos públicos mais vulneráveis. Por outro lado, recebemos e assumimos a gestão de mais de 30 equipamentos do Instituto da Segurança Social, a maioria dos quais acabaram por passar definitivamente para a SCML. Ao mesmo tempo, nunca deixámos de apostar em projetos que encontrem soluções inovadoras em diferentes áreas. 

Não houve cortes então nesta vertente.

Não deixámos de canalizar qualquer tipo de verba para esses projetos, pelo contrário, até reforçámos nos casos mais relevantes, por termos a noção que representam um investimento na melhoria de condições de vida das pessoas e não um custo. Como também tenho referido, é cada vez mais importante “gerir bem” no terceiro setor, para garantir o financiamento necessário, numa altura em que as exigências vão aumentando.

Estas obras vão beneficiar quantas pessoas no total?

Seguramente milhares de pessoas, de forma direta ou indireta.

Numa altura em que vêm cada vez mais turistas para Lisboa, a Santa Casa não equacionou investir no alojamento turístico?

O alojamento turístico não é uma prioridade para a Santa Casa. Temos duas experiências piloto, de alojamento local, mas que não são significativas no universo dos arrendamentos da instituição. Falamos de dois edifícios que, pelas suas características, dificilmente teriam outro tipo de utilização, pelo que se decidiu por esta via. É preciso salientar que nestes dois casos os edifícios foram totalmente reabilitados.

Que outras obras estão previstas para o futuro?  

Estamos já a trabalhar na construção do auditório do Complexo de São Roque, assinado pelo arquiteto Souto Moura, na reabilitação do edifício de Monsanto (que nos foi cedido pela Nestlé) para um projeto intergeracional, na conclusão do projeto que temos para a antiga Mitra… São apenas alguns exemplos, das muitas obras que já estão em curso e que vão ter um grande impacto no futuro da cidade e das pessoas, como são os casos do novo Hospital da Estrela, em Lisboa, ou do novo Hospital de Sant’Ana, na Parede (Cascais). 

Que obra que diz mais ao Provedor?

Todas as obras têm um significado especial. Poderia destacar a nova unidade do Hospital de Sant’ana, por retomar um projeto que esteve parado 30 anos e porque vai representar um acréscimo de respostas na área da saúde naquela região. Poderia também falar na reabilitação da Quinta Alegre, onde vamos instalar, pela primeira vez, a casa dos aposentados da Santa Casa. No entanto, a ter de referir apenas uma obra, sinto que a que terá mais impacto na vida das pessoas, porque vai ajudar a suprir uma lacuna enorme, é a unidade de cuidados continuados integrados que estamos a construir no antigo Hospital Militar da Estrela, a maior da capital.

E que projeto tem ainda por concretizar?

Quem, como eu, já teve o privilégio de assumir vários cargos de serviço público ao longo dos anos, tem a perfeita noção de que há sempre algo mais por concretizar, é uma obra inacabada. E o desafio também é esse, o de procurarmos sempre fazer as melhores opções em prol do bem comum e dos cidadãos. Sabemos que nem sempre é possível dar resposta a tudo, mas com empenho, dedicação e boa gestão, acredito que se consegue fazer um bom trabalho e deixar obra feita para o futuro.