Médio Oriente. Trump apregoa paz mas não apresenta um plano

Presidente dos EUA garante que as partes do conflito israelo-palestiniano estão “prontas para alcançar a paz” e compromete-se, de forma vaga, a participar no processo

A fama de dealmaker contribuiu de forma decisiva para a ascensão política meteórica de Donald Trump, nos Estados Unidos, e o presidente norte-americano  está resoluto em fazer-se valer da mesma, e de uma boa dose de otimismo, para acabar com um dos conflitos mais intrincados do Médio Oriente, protagonizado por palestinianos e israelitas.

Depois do encontro de hoje, em Belém, na Cisjordânia – integrado numa visita oficial de dois dias à região que, na segunda-feira, incluiu uma visita inédita ao Muro das Lamentações e a outros locais de culto do judaísmo, em Jerusalém -, com Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestiniana (AP), Trump comprometeu-se em utilizar as suas habilidades de negociador de elite para “alcançar a paz” entre as duas partes desavindas há, pelo menos, 70 anos. “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para os ajudar a conseguir a paz”, garantiu o presidente dos EUA, citado pela CNN. “Sei que já ouviram [isto] antes mas, garanto-vos, os palestinianos estão prontos para alcançar a paz (…) e o meu grande amigo Benjamin Netanyahu [também] quer paz”.

Da mensagem de Trump, no entanto, é difícil retirar mais do que a formulação de um mero desejo. Isto porque o líder norte-americano não revelou quaisquer planos para lograr tamanha demanda e, nem Abbas, nem o primeiro-ministro israelita se mostraram verdadeiramente entusiasmados com as declarações do magnata. Citado pelo “El País”, o líder da AP lembrou mesmo que “o problema fundamental” dos palestinianos “não é com o judaísmo”, mas com  a “ocupação, os colonatos, e a rejeição de Israel em reconhecer o Estado da Palestina.

“Se isto retira pressão [ao conflito] ou torna as concessões mais prováveis, ainda não sabemos”, explica ao Politico o diretor executivo do Washington Institute for Near East Policy, que considera que o discurso de Trump foi “mais simbólico que substantivo”.

Para Robert Satloff, há que realçar, isso sim, a opção do presidente dos EUA por uma abordagem menos disruptiva e manifestamente menos polémica, no que toca à aliança com Israel, tendo em conta aquilo que foi defendido pelo próprio durante a campanha eleitoral. Recorde-se que Trump prometeu reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel e mostrou-se cético em relação à praticabilidade da solução pela criação de um estado soberano na Palestina, de acordo com o plano de fronteiras definido em 1967. “O presidente optou por não anunciar novidades políticas em Israel. Em vez disso, ficou-se pelos símbolos – o Muro das Lamentações, o Santo Sepulcro, o Yad Vashem [memorial das vítimas do Holocausto] e a Basílica da Natividade”, destacou Satloff.

Tal como no dia anterior, a presença de Trump em Israel e na Cisjordânia foi recebida em fúria por centenas de palestinianos. Às manifestações de segunda-feira, junto aos postos de controlo, em solidariedade com os presos que se encontram em greve de fome desde meados de abril, em protesto pelo tratamento abusivo nas prisões israelitas, somou-se a convocatória de um “dia da raiva” para esta terça-feira, que resultou em confrontos entre palestinianos e a polícia de Israel. Em Natanya, a norte da capital Telavive, um jovem tentou apunhalar um polícia e foi abatido a tiro.

Depois de paragens na Arábia Saudita, Israel e Cisjordânia, a da comitiva norte-americana segue para Roma, onde Donald Trump se reunirá com o Papa Francisco. De Itália, o Air Force One voará para Bruxelas, onde, na quinta-feira, terá lugar cimeira da NATO. A viagem do presidente terminará na sexta, com nova presença em solo italiano, onde participará num encontro do G7.