Hepatite A. Mais 40 casos detetados nas duas últimas semanas

Centro Europeu de Controlo e Prevenção da Doença acredita que o pico de casos ainda não foi atingido na Europa.

Portugal registou mais 40 casos de hepatite A nas duas últimas semanas. A Direção Geral da Saúde fez ontem um novo balanço do surto sinalizado em março no país e dá conta de um total de 285 casos. A 8 de maio, data do balanço anterior, verificavam-se 242.

De acordo com os dados divulgados pela DGS, a quase totalidade dos casos (93%) ocorreram em homens e em mais de metade (56%) o contágio resultou de contacto sexual.

Recorde-se que o aumento de casos de hepatite A face ao que era habitual quando a doença era detetada sobretudo em pessoas que viajavam para países onde o vírus é endémico já foi associado a clusters de transmissão entre homens que têm sexo com homens. Este vírus, além de poder ser contraído através de alimentos ou água contaminados com matéria fecal (a principal via de transmissão nos países onde a hepatite A é endémica), também pode ser contraído através de comportamentos sexuais como o sexo oral ou oro-anal, sendo recomendado por isso uma boa higiene depois da prática sexual e medidas de proteção.

Espanha regista o maior surto a nível europeu: desde o início do ano já foram detetados 1314 casos de hepatite A, quando no ano passado, por esta altura, havia apenas registo de 198 casos.

Segundo a última análise europeia, Portugal, França, Itália e Reino Unido registam, depois de Espanha, um maior número de casos.

O surto em curso em Espanha levou mesmo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças  (ECDC) a recomendar a todas as pessoas que se desloquem ao festival WorldPride, que vai decorrer de 23 de junho a 2 de julho em Madrid, a procura de aconselhamento médico no sentido de fazerem a vacinação contra a hepatite A ou eventuais doses de reforço, conforme for a orientação médica.

Viagens e festivais Com a chegada do verão, o ECDC admite que o surto de hepatite A possa não ter ainda atingido o seu pico.

As viagens e os festivais tendem a aumentar o risco de propagação deste tipo de vírus, dado que a higiene acaba por ser menor nesses dias – isto além de eventuais comportamentos sexuais mais propícios a apanhar hepatite A. Aliás, os cluster de transmissão do vírus na Europa terão começado com viajantes infetados que participaram, no verão passado, em festivais gay.

A DGS já faz saber que vai reforçar a prevenção nos festivais de música e paradas. Entretanto, no que diz respeito às viagens para países onde o vírus é endémico ou onde existem surtos ativos, os viajantes que pretendam levar a vacina deixaram de precisar de submeter o pedido à DGS, bastando ter prescrição.

Já os grupos de risco, entre os quais contactos de pessoas diagnosticadas com hepatite A e homens que praticam sexo anal ou oro-anal, podem fazer a vacina de forma gratuita no Serviço Nacional de Saúde. A vacinação foi centralizada em Lisboa na Unidade de Saúde Familiar do Martim Moniz, já que a capital é a zona mais afetada. Segundo o balanço da DGS, a maior parte dos casos (80%) estão concentrados na Região de Lisboa e Vale do Tejo e o grupo etário mais afetado é o dos 18-50 anos, com 255 casos.

A Madeira revelou ontem ter detetado um caso importado de hepatite A, um cidadão de nacionalidade belga que viajava em embarcação própria proveniente do sul de Espanha. De acordo com a autoridade de saúde regional, este caso não está, porém, relacionado com o surto no continente.