Passos agarra o aparelho pela distrital

O líder do PSD já prepara terreno para o próximo congresso e quer um ‘passista’ na estrutura de Lisboa. O nome escolhido é Pedro Pinto. Ângelo Pereira deve acompanhar na vice-presidência. 

Se alguém um dia escrever a história do PSD em Lisboa, o romance deste ano dará um capítulo inteiro.

Miguel Pinto Luz, o homem que preside à distrital dos sociais-democratas da capital há seis anos, não vai prorrogar o seu mandato para depois das autárquicas, que são a 1 de outubro.

Ao contrário do aprovado pelo Conselho Nacional do partido este ano, que recomenda às estruturas locais que evitem disputar eleições internas que coincidam com a preparação das autárquicas, o órgão lisboeta deve eleger o seu novo líder distrital entre o fim de junho e o início de julho, este mesmo ano.

Dia 20 de junho, Luz, que não será presença ativa na campanha autárquica, abandona a presidência do distrito do PSD/Lisboa.

O dirigente local, que também é vice-presidente da Câmara de Cascais, não pode nem tencionaria recandidatar-se, estando a opção de não prolongar o mandato protegida estatutariamente.

Embora se antecipasse que a eleição para a distrital do PSD/Lisboa se realizaria apenas depois das eleições autárquicas – alguns ‘laranjinhas’ já previam até que Pinto Luz só tivesse sucessor depois do próximo congresso do partido, no início de 2018 – o certo é que houve mudança de planos. E há um porquê.

Ao que o SOL apurou, a sede nacional dos sociais-democratas não pretende abdicar de ter um quadro leal a Pedro Passos Coelho a liderar a distrital depois de Pinto Luz, por quem Passos tem pública simpatia, sair do cargo.

Por isso, e tendo em conta o cenário difícil que se avizinha para as eleições autárquicas da distrital em Lisboa, na São Caetano à Lapa prefere-se resolver a questão do órgão local antes da ida às urnas, que é depois do verão.

Com o regresso de Isaltino Morais a Oeiras e a campanha hesitante de Teresa Leal Coelho contra o favoritismo de Fernando Medina, ver a distrital, já sem Pinto Luz, correr o risco de cair em mãos distanciadas de direção de Passos seria circunstância indesejável.

De um Pinto para o outro

O líder da oposição e ex-primeiro-ministro sabe que as eleições locais deste ano não serão fáceis para o PSD e sabe também que na reunião magna do partido, agendada para o primeiro trimestre do próximo ano, terá adversário para revalidar a chefia laranja.

É nesse sentido que a direção atual do partido incentivou – e já quase convenceu totalmente – Pedro Pinto, ‘passista’ e antigo líder da JSD, a concorrer à distrital lisboeta.

Ângelo Pereira, que é candidato à Câmara Municipal de Oeiras pelo PSD, deverá ser seu vice-presidente.

«O congresso não é imune ao resultado das eleições autárquicas, mas não é certamente menos imune ao aparelho», clarifica fonte do Conselho Nacional, ao SOL. «Segurar a distrital faz sentido para segurar o partido».

A distrital possui também fulcral importância na medida em que o futuro da concelhia de Lisboa também se encontra em aberto.

Depois de Mauro Xavier se ter demitido há cerca de um mês, por divergências com Passos e Leal Coelho, esta quinta-feira Rodrigo Gonçalves foi destituído de presidente interino do PSD/Lisboa pela sua comissão política, na qual nunca teve maioria depois de Xavier sair. Este, sabe o SOL, não descarta uma tentativa de concorrer ao cargo de Pinto Luz – ascendendo da concelhia para a distrital – mas as suas circunstâncias profissionais também pesaram na decisão final.

Com Xavier na distrital e Isaltino em Oeiras, Rodrigo Gonçalves teria margem para tentar ser eleito para a concelhia e reverter a limpeza que Miguel Pinto Luz fez à sua ala, num processo conhecido como ‘higienização’ do PSD/Lisboa, devido aos processos judiciais e controvérsias que envolvem Gonçalves.

Mauro Xavier, que afirmou não voltar «a votar Passos» antes de se demitir da concelhia, é amigo de longa-data de Miguel Relvas e há alguns meses que se aproximou de Rui Rio.

Não seria, portanto, o presidente de distrital mais favorável à atual direção de Passos.

O facto é que com Miguel Pinto Luz a trocar as voltas à linha distante de Passos Coelho, que pretendia tomar a distrital após a sua saída, Pedro Pinto deverá ter caminho tranquilo, possivelmente sem qualquer tipo de oposição para o cargo.

A data para a escolha dos militantes será tornada pública para a semana, no canal de comunicação oficial dos sociais-democratas, o Povo Livre.

Pedro Rodrigues, que disputara a distrital contra Pinto Luz na sua última eleição, em 2013, também era apontado como um dos favoritos à cadeira que fica – ou ficou – disponível.

Rodrigues, antigo presidente da Juventude Social Democrata e hoje líder do movimento de alternativa interna Portugal Não Pode Esperar, tem dado entrevistas e surgido em eventos na academia ao lado de veteranos do partido como Nuno Morais Sarmento e Luís Marques Mendes.

No entanto, o também advogado tem-se resguardado do rebuliço que surgiu com a ‘antecipação’ da eleição para a distrital.

Mesmo depois de Pedro Pinto não descartar em público que seria candidato à distrital, ontem, Rodrigues não se lançou numa corrida que já foi sua.

Carlos Carreiras, coordenador nacional autárquico do partido e presidente da Câmara Municipal de Cascais, seria outro dos fiéis ‘passistas’ ponderados para ir à distrital, um posto que também já foi seu, mas em entrevista recente ao SOL, o autarca descartou inteiramente esse regresso.

«Só quero ver como é que o Pedro Pinto como presidente da distrital se vai sentar à mesma mesa com o Marco Almeida como presidente da Câmara de Sintra», ironiza fonte da distrital do PSD/Lisboa. «Ninguém se lembra de 2013? É que eles não devem ter esquecido», remata o mesmo ao SOL.

Águas pouco passadas

Nas últimas eleições autárquicas, em 2013, Marco Almeida candidatou-se como independente, ficando à frente de Pedro Pinto, que conseguiu apenas 13,8% dos votos, demitindo-se de seguida. Foi Basílio Horta, com o PS, que ganhou Sintra há quatro anos, mas em 2017 Marco Almeida reuniu força suficiente com o seu movimento independente para convencer o PSD a apoiá-lo – uma decisão que, naturalmente, deixou Pedro Pinto constrangido.

Marco Almeida fora vice-presidente de três mandatos camarários do PSD em Sintra, afastara-se do partido quando Passos preferiu Pedro Pinto em 2013, havendo uma reaproximação para tentar recuperar Sintra aos socialistas este ano. Caso Pinto triunfe na distrital e Almeida em Sintra, os seus caminhos tornam a cruzar-se na novela laranja.