Grécia une europeus contra o FMI

Reunião do Eurogrupo salientou divergências entre ministros das Finanças dos países do Euro e instituição liderada por Christine Lagarde. Mas acordo sobre ajuda a Atenas é viável. 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse no final desta semana que as suas divergências com os europeus sobre a Grécia estão a diminuir. Mas no início da semana estas ficaram bem patentes na reunião do Eurogrupo.

A participação do FMI num novo resgate, a par das dúvidas da Alemanha sobre um eventual novo alívio da dívida grega continuam a impedir um acordo em relação ao futuro grego.

O FMI recusa uma participação financeira no resgate grego a não ser que as autoridades europeias adotem medidas que tornem sustentável a dívida pública grega, que ronda os 200% do PIB.

Ao mesmo tempo, vários países do euro ameaçam não aprovar mais desembolsos caso o FMI abdique da partilha da responsabilidade financeira.

Na madrugada de terça-feira a reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro anunciou que tinha falhado o acordo sobre o alívio da dívida grega e sobre a entrega à Grécia de prestações do empréstimo concedido ao país em 2015, o terceiro desde 2010.

O site grego euro2day.gr, citado pelo Observador, noticiou ontem que foram muitas as divergência entre os países europeus e o FMI. De acordo com o site, que descreve a reunião, a animosidade dos ministros é dirigida ao representante do FMI, Poul Thomsen.

De acordo com os relatos, o ministro das Finanças da Áustria, Hans Jörg Schelling, disse que os ministros «não podem negociar novas medidas a cada quatro semanas» e que o FMI tem de decidir se entra ou não no resgate.

Já o seu congénere espanhol disse que não fazia questão que o FMI participasse no resgate, mas que não podia estar com um pé dentro e outro fora. «Não é possível estar 50% grávido como o FMI parece estar agora», afirmou Luís de Guindos.

Mesmo o novo responsável das Finanças de França, Bruno Le Maire, na sua primeira reunião, questionou a falta de clareza da posição da instituição.

Menos divergências

No Eurogrupo de segunda-feira Thomsen disse aos ministros europeus estar «muito longe de dizer à administração [do FMI] que estamos perto de encontrar uma estratégia com a qual possamos concordar», mas no final da semana a posição do fundo tinha mudado.

«As divergências estão a diminuir e todos estão otimistas quanto à possibilidade de se concluir um acordo durante a próxima reunião do Eurogrupo», revelou no final da semana o porta-voz da instituição financeira Gerry Rice.

Uma nova tentativa de acordo será feita na próxima reunião do Eurogrupo a 15 de junho, já com um acordo firmado sobre a trajetória orçamental da Grécia até 2022. Os europeus querem que a Grécia consiga um excedente orçamental primário (sem os encargos com a dívida) de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 – ano em que termina o programa de resgate – e anos seguintes.

A Grécia precisa de receber uma nova parcela do empréstimo a tempo de reembolsar em julho 7,5 mil milhões de euros a credores e evitar um incumprimento.

No entanto, segundo Atenas, o impasse entre os países que partilham a moeda única e o FMI não afetará o dinheiro que evitará o incumprimento. «O resultado das conversações não está ligado ao desbloqueio do empréstimo. Esse assunto foi acordado na noite passada», disse durante o dia de terça-feira o porta-voz do Governo helénico Dimitris Tzanakopoulos.

Objetivos orçamentais

De acordo com o o porta-voz do FMI, a «Grécia adotou um conjunto de reformas sólidas (…) mas ainda precisamos de ter mais precisões sobre a questão do alívio da dívida». Gerry Rice acrescentou que as divergências são sobre objetivos orçamentais impostos pela Zona Euro a Atenas.

O Governo grego cumpriu a sua parte ao aprovar os pacotes de medidas de consolidação orçamental para 2019 a 2021 que foram exigidos pelo Eurogrupo. Estes envolviam uma poupança líquida de 1% do PIB no sistema de pensões e reformas e de alteração do sistema de IRS. Os gregos concretizaram 115 das 140 medidas que estavam pendentes.

Ainda antes da reunião do Eurogrupo, o ministro alemão das Finanças reconheceu a concretização das medidas, mas deixou claro que uma discussão sobre o alívio da dívida terá de ser noutra altura e que exigirá o aval prévio do Parlamento alemão.

«Não estamos a falar de um novo programa, mas da implementação do programa acordado em 2015», disse Wolfgang Schäuble, frisando ter ficado claro na altura que nenhuma «medida adicional» seria considerada antes de o atual programa terminar em 2018.