1921 – 1938 . A Taça que era campeonato

Antecessor da Taça de Portugal, disputou-se entre 1921/22 e 1937/38. Inicialmente competiam os campeões regionais, depoiis alargou-se. 

Ricardo Ornellas: nascido em Lisboa em dezembro de 1899, foi empregado de uma companhia de navegação e, nesse tempo que o jornalismo por si só não dava para sobreviver, uma das penas mais lúcidas que escreveram para Os Sports, para o Diário Popular (do qual seria chefe de redação) e para A Bola (assinando com o pseudónimo de Renato de Castro). Chegou a Selecionador Nacional e criou a célebre expressão «Equipa-de-Todos-Nós». Foi um dos fundadores do Casa Pia Atlético Clube, juntamente com vários elementos saídos do Benfica, autor de várias obras com o futebol como tema, e viria a morrer em 1967.

É precisamente um dos seus livros que tenho nas mãos, e tanto me tem servido de consulta que já perdeu há muito a cola que lhe mantinha unidas páginas e capa. Chama-se Números e Nomes do Futebol Português.

E por que lhe pego hoje? Para vos poder falar do Campeonato de Portugal, essa prova parece ter ficado numa espécie de limbo, utilizada aqui e além como fraca arma de arremesso para justificar títulos inexistentes.

Ora bem, o Campeonato de Portugal foi criado pela antiga União Portuguesa de Futebol (daria lugar à Federação Portuguesa de Futebol) na época de 1921-22. O objetivo era fazer disputar uma competição entre os campeões regionais, sendo que nesse ano de estreia havia quatro: Sporting (Lisboa), FC Porto (Porto), Marítimo (Funchal) e Olhanense (Algarve). Apesar disso, o regulamento para a primeira edição da prova foi assim imposto: «O Campeonato de Portugal, nesta primeira época, só é disputado entre os campeões de Lisboa e Porto em duas mãos». Certamente injusto, mas Marítimo e Olhanense viriam a ter a sua vingança.

O Campeonato de Portugal disputou-se até à época de 1937-38. Depois, entendeu-se que o verdadeiro campeonato de Portugal era o da Liga, que ganhou a nomenclatura de Campeonato Nacional, passando o Campeonato de Portugal a designar-se por Taça de Portugal, exatamente por ser disputado em formato de taça, como era hábito dizer-se.

Daí a divergência que faz com que as contabilidades não batam certo de clube para clube. A questão é clara: ou se levam em conta os Campeonatos de Portugal, que tiveram 17 edições, ou se acrescentam essas 17 edições às 74 da Taça de Portugal, coisa que geralmente se não faz como sabemos, pois ninguém considera o Olhanense, o Marítimo ou o Carcavelinhos como vencedores da Taça. Mas vejamos o Campeonato de Portugal como a tal Taça-de-Portugal-antes-de-o-ser, recordando a propósito que o troféu para o vencedor é o mesmo.

Em 1921-22, houve a tal decisão incompreensível de deixar Sporting e FC Porto resolverem a questão a dois, pondo de fora os campeões do Algarve e da Madeira. Venceu o FC Porto, no desempate. No Porto, vitória portista por 2-1; em Lisboa, vitória lisboeta por 2-0. Ah! Nessa altura ainda estávamos longe dos desempates por golos fora e marcou-se nova contenda, outra vez no Porto, mas no Bessa. O FC Porto torna-se o primeiro conquistador do Campeonato de Portugal, mas ainda foi preciso prolongamento.