No domingo, descendo o vale por entre árvores

Benfica e Vitória de Guimarães disputam, hoje, o último título da temporada, com os cinco-a-zero da Luz frescos na memória.

Eis a Taça de Portugal! Eis o Jamor!

E a época que chega ao fim, neste jeito popularucho que sempre costumou ter, gente em corrupio até ao Estádio Nacional, reuniões de amigos à sombra das faias e dos pinheiros e em redor do frango assado e da cerveja às vezes quente, conversa que puxa conversa, desta feita sem aquela rivalidade doentia que faz parte dos jogos entre os três maiores do futebol em Portugal, afinal entre Benfica e Vitória de Guimarães não há razão para animosidades, a menos que os minhotos tenham levado a peito a recente derrota no Estádio da Luz por cinco-a-zero.

Diz Rui Vitória, com chiste, sublinhe-se: «Aquilo que retenho é esta parte do futebol que é tão agradável: as pessoas a conviver de forma descomplexada, a meter um bocadinho de álcool na engrenagem para ir para dentro de aquele calor de uma forma muito mais soltinha… os grelhados…».

Faz sentido. Faz todo o sentido. E diz mais ainda: «Aquilo dá um estado de espírito especial. Depois o jogo é o culminar daquele dia, é a festa. Acho que viver tudo aquilo é muito agradável.»

Um e quatro…

Primeiro e quarto classificado subirão ao relvado. Mais do que isso: duas equipas que marcaram indelevelmente a época que agora termina, muito provavelmente aquelas que mais a marcaram.

Não vai, com certeza, Rui Vitória no engodo de que a tarde da Luz se repetirá. Estranho seria, mesmo que este Vitória que agora já não é de Vitória (foi o único treinador vimaranense a conquistar a Taça de Portugal, precisamente contra o Benfica) e sim de um sempre tranquilo Pedro Martins, cometesse a catadupa de erros que o condenou à goleada bem fresca ainda na memória. Aliás, bastar-lhe-á ser ele próprio, isto é, aquele conjunto arrumado na defesa e de contragolpe fulminante que pôs em sentido muito boa e rica gente ao longo do campeonato.

Martins que responde a Vitória num curioso pingue-pongue de palavra cá palavra lá: «Também tenho essa imagem. Nunca participei diretamente no final da Taça, mas ao passar notava-se aquele momento mágico para toda a gente. Um momento único! Tenho, aliás, a certeza de que muitas famílias vitorianas vão aproveitar este dia, que é tão importante e único para eles também. E vão estar em grande número no Estádio Nacional para nos apoiarem neste dia tão importante da nossa história».

Quinta-feira, estranhamente, houve uma invasão verde às riscas brancas do Jamor. Não, não eram sportinguistas enganados. Eram mais de mil adeptos do Celtic que se juntaram para comemorar a única Taça dos Campeões da sua história, conquistada no dia 25 de Maio de 1967, aí mesmo, no Estádio Nacional, frente ao Inter de Milão – 2-1. Ficaram para sempre Os Leões de Lisboa.

Vai, portanto, Dona Águia em busca da sua plenitude. Ou seja, juntando a Taça de Portugal ao título de campeão, ninguém poderá pôr em causa a sua evidente superioridade sobre os seus rivais mais acesos na luta pelo poleiro do futebol em Portugal. A dobradinha ganha, por isso, importância redobrada. Devolve o Benfica a uma fase de ganhar, ganhar e ganhar, que a despeito de ter deixado fugir por entre os dedos mais uma Taça da Liga, o tornam cada vez mais na potência máxima deste nosso futebolzinho tantas vezes injustamente maltratado. Rui Vitória chamou-lhe uma voracidade. Um apetite desmesurado por títulos. Eu chamar-lhe-ia um encontro com o Destino. Trinta e seis títulos de campeão casados com vinte e seis (ou vinte e nove se contarmos os Campeonatos de Portugal) Taças, dão bem imagem de um clube que regressou ao auge dos seus tempos de glória. E promete ficar por lá…