Ramos-Horta. “O prémio Nobel da Paz é como a lotaria”

Vencedores do Prémio Nobel da Paz estiveram esta segunda-feira nas Conferências do Estoril

O primeiro dia das Conferências do Estoril não teve apenas palestras dedicadas aos mais novos. A que mais se destacou foi a que reuniu quatro vencedores do Prémio Nobel da Paz: Bernard Kouchner, co-fundador dos Médicos Sem Fronteiras, José Ramos-Horta, porta-voz da resistência timorense e antigo Presidente da República daquele país, Rajendra Pachauri, antigo presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, e Jody Williams, ativista distinguida pela campanha internacional pela proibição das minas terrestres.

Uma das intervenções que mais deu que falar foi a de Ramos-Horta, que defendeu que a conquista do Prémio Nobel se deve ao trabalho de equipa. “Nenhum de nós trabalha sozinho. Há muitos aqui na sala e espalhados pelo mundo que trabalham tanto ou mais que eu e os restantes laureados na busca pela paz. O prémio Nobel é dado anualmente a uma ou duas pessoas, é impossível dar a toda a gente. É quase como se fosse uma espécie de lotaria”, afirmou.

"Por que razão recebemos prémios de Paz e damos centenas de conferências de paz, se está tudo cada vez pior?", questionou o timorense.

Kouchner aproveitou a sua intervenção para falar na crise dos refugiados: "Enquanto há pessoas a fazerem castelos de areia nas praias do mediterrâneo, todos os dias morrem pessoas a tentar atravessar esse mar. Enquanto os principais líderes do mundo se juntavam no G7 para tentarem resolver as crises dos migrantes, oito barcos rodeavam Sicília [o local onde ocorrera a reunião] para bloquear a vinda de refugiados”, afirmou.

Já Pachauri alertou para o facto de o Acordo de Paris, que Donald Trump ameaçou abandonar, estar “em risco”.  "Se estivermos resignados à mentalidade hiperconsumista, colocaremos a nossa existência em risco", acrescentou.

A norte-americana Jody Williams arrancou vários aplausos do público, ao criticar Donald Trump e dizer que hoje em dia “não se pensa em cidadãos, pensa-se em consumidores”.

“Ninguém muda o Mundo. Só se tiver um ego do tamanho do Planeta Terra é que pensa assim (…) Não sou a Madre Teresa, nem quero ser, não faz o meu estilo”, acrescentou.