A Liberdade pode caber numa mala

O projeto fui fundado por Inês Seabra como forma de ajudar as reclusas, que visitava de forma voluntária, a terem uma segunda oportunidade e a serem reintegradas na sociedade.

«Nós não somos quem fomos, mas quem podemos vir a ser», disse Laurinda Alves sobre a associação Reklusa, um dos casos de sucesso que a plataforma de crowdfunding do Novo Banco ajudou. E a frase serve que nem uma luva à instituição que nasceu para dar uma segunda oportunidade à população prisional e ex-reclusa, através do apoio à sua reinserção e integração social e profissional.

A ideia saiu da cabeça e do coração de Inês Seabra, quando fazia visitas voluntárias à prisão feminina de Tires, através da associação Dar a Mão, que apoia as reclusas e as suas famílias. Desde 2000 que Inês era testemunha do talento e valor que estas reclusas tinham e incentivou-as a fazerem pequenos trabalhos de costura, peças que depois vendia fora da prisão.

Mas foi em 2010 que a ideia ganhou vida. Inês Seabra e Mafalda Raposo fundaram a Reklusa, que passava pela venda de malas e outros acessórios feitos à mão por aquelas mulheres. O sucesso do projeto obrigou a mais e, em pouco tempo, tornou-se óbvio que precisavam de um espaço onde pudessem comercializar os produtos, elevando a escala do conceito e empregando mais mulheres.

Em novembro de 2013 a loja e atelier da associação na Rua das Amoreiras tornou-se uma realidade graças à angariação de 2.500 euros que a Reklusa conseguiu através da plataforma de Crowdfunding do Novo Banco. O valor serviu para fazer obras de remodelação no espaço que a Câmara Municipal de Lisboa cedeu. A Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) ficou assim mais próxima do modelo que as fundadoras sempre quiseram que tivesse: uma empresa social.

A abertura da loja no 69-71 da Rua das Amoreiras levou a um aumento considerável das vendas – em 2014 só os produtos comercializados naquele espaço renderam mais 36 mil euros do que no ano anterior. São artigos como colares, malas, carteiras e outros acessórios de moda, tudo feito pelas reclusas.

Na altura, Inês Seabra fez questão de dividir os louros, dizendo que a plataforma do Novo Banco tinha sido «muito importante devido à necessidade de um financiamento urgente e de curto prazo», que permitiu «a conclusão do projeto de remodelação da loja/sede».

A possibilidade da venda direta ao público foi assim um marco e um elo fundamental para a missão da associação, uma vez que possibilitou uma grande visibilidade à marca, contribuiu de forma significativa para o reforço das vendas, gerou novas oportunidades de emprego para ex-reclusas e aumentou a produção e o número de colaboradoras dos estabelecimentos prisionais. Deu ainda a conhecer o trabalho da associação a um grande número de pessoas, que visitam a loja diariamente.

Mas a vida da Reklusa não se ficou por aqui e recentemente o projeto deu mais um passo importante no seu caminho enquanto empresa social. A loja e o nome mudaram e a Reklusa passou a ser Reclusa. A transformação surgiu graças à Let’s Help, uma plataforma dedicada ao empreendedorismo social.

O novo logótipo representa uma cela mas, tal como o projeto inicial, “a cela é atravessada por um novo caminho, uma nova oportunidade”. Esta imagem presta homenagem às mulheres que fizeram da Reclusa uma marca capaz de entrar no mercado competitivo da moda.

Perdeu o K mas ganhou uma nova vida, não esquecendo a identidade de sempre, a de se apresentar como uma segunda oportunidade a mulheres que, por esta ou por aquela razão, estiveram presas. Sempre com a promessa de que numa simples mala pode caber a liberdade.