Imãos para o bem e para o mal

Portugal é cada vez mais um país de filhos únicos. Nos anos 60, 17,1% das famílias tinham mais de cinco cabeças, o que hoje já só é a realidade de 2% dos lares. Segundo os censos de 2011, mais de metade dos casais viviam só com um filho, quando em 1991 ainda estavam em maioria…

Discutia muito? É normal

Laurie Kramer, da Universidade de Illinois, quantificou as brigas entre irmãos, que acredita fazerem parte da natureza desta relação. Segundo esta autora, os irmãos entre os 3 e os 7 anos de idade tendem a entrar em conflito 3,5 vezes por cada hora que passam juntos. Os mais novos, dos 2 aos 4 anos, desentendem-se a cada dez minutos. Além disso, os irmãos fazem sete vezes mais comentários negativos uns aos outros do que a amigos. Os resultados destas brigas parecem ser mais positivos do que negativos. Um trabalho da Brigham Young University, no Utah, seguiu 395 famílias e concluiu que as discussões permitem às crianças aprender a fazer as pazes, compensar e reassumir o controlo de emoções. “A ausência de afeto parece ser mais problemática do que níveis elevados de conflito.” 

Más influências

Quando um filho comete um ato violento, o risco de um irmão mais novo seguir esse comportamento é maior do que o de contagiar os mais velhos da prole. A conclusão foi partilhada em 2014 na “Psychological Medicine”. Quanto maior a proximidade de idades, maior o risco de más influências. 

Os seus raspanetes eram os piores?

Um estudo das universidades Duke, John Hopkins e de Maryland, nos EUA, confirmou que os pais são mais duros com os filhos mais velhos. Ao analisar indicadores numa base de dados norte-americana como deixar um filho que desiste da escola ou que engravida continuar a viver lá em casa ou dar-lhe apoio financeiro, a equipa verificou que os primeiros filhos tinham menos abébias. Mas os mais novos tendem a pisar mais vezes o risco, nomeadamente na escola, pelo que a dureza dos pais pode ser bem-intencionada. “O nosso estudo sugere que alguns pais usam a estratégia de influenciar o filho mais novo travando o comportamento de risco do mais velho”, disse a autora Lingxin Hao. 

Cérebros diferentes

Pessoas com e sem irmãos têm cérebros diferentes? A teoria foi publicada este mês na revista “Brain Imaging and Behavior” por investigadores chineses, sendo o tema caro à China: até 2015 vigorou a política do filho único. Avaliados 250 estudantes, a equipa concluiu não haver diferenças de inteligência, mas os filhos únicos saíam-se melhor em tarefas criativas e eram menos amáveis. Ressonâncias magnéticas ao cérebro das cobaias revelaram diferenças condizentes com os resultados, defendem os cientistas, com menos massa cinzenta no córtex pré-frontal e mais no giro cerebral.

Uma proteção contra a depressão?

Em 2007, uma equipa pôs a hipótese de a relação com os irmãos ter um efeito protetor da depressão em adulto. Até então, a maioria dos trabalhos em torno da influência do contexto familiar na saúde mental centravam-se na relação pais/filhos. Em 210 homens recrutados para um estudo longitudinal quando eram estudantes universitários e seguidos durante 30 anos, 26% dos que tinham tido uma má relação com os irmãos na juventude desenvolveram uma depressão major até chegarem à meia-idade. A depressão só afetou 10% dos que tinham tido relações medianas e 3% dos que tiveram relações boas com os irmãos. O efeito parece até maior do que ter historial da doença na família: só 16% dos que tinham casos de depressão próximos tiveram o diagnóstico da doença em adultos. 

Irmãos e gordura

Se há estudos que sugerem que os filhos mais velhos têm maior risco de obesidade, tensão e triglicéridos altos (o que pode estar associado aos comportamentos da mulher na primeira gravidez, como fumar ou amamentar mais tempo), um trabalho da Universidade de Michigan divulgado em 2016 apontou no sentido oposto: ter um irmão, sobretudo antes de entrar para o 1.º ano da escola (entre os 2 e os 4 anos) está ligado a um menor índice de massa corporal. Crianças da mesma idade sem irmãos têm um risco três vezes superior de serem obesas, concluiu a equipa. As razões estão em aberto: as crianças podem tornar–se mais ativas e os hábitos alimentares da família também tendem a mudar com a chegada do bebé, sendo nesta fase da vida que se adquirem rotinas. 

A ordem do nascimento 

Uma investigação sueca sugeriu, este mês, que os irmãos mais velhos tendem a ocupar mais vezes cargos degestão. Já em 2007, uma sondagem a 1582 CEO revelara que 43% eram irmãos mais velhos, 33% do meio e 23% mais novos. Em 2015, uma análise com base nos registos de 20 mil pessoas concluiu não haver relação entre a ordem de nascimento e a personalidade, mas não faltam estereótipos. Uma sondagem recente no Reino Unido revelou que 46% dos irmãos mais novos se sentem os mais divertidos da família, contra 36% dos irmãos mais velhos. Estes acham-se mais responsáveis e prósperos.

Mais irmãos, menos divórcios

Diminuíram as crianças e têm estado a aumentar as separações. Estará tudo ligado? Os investigadores não vão tão longe, mas um trabalho da Universidade de Ohio concluiu, em 2013, que crescer com muitos irmãos parece ter um efeito protetor do divórcio. Os autores analisaramo historial de 57 mil adultos entre1972 e 2002. Por cada irmão (até sete), a probabilidade de a pessoa vir a divorciar-se baixa 2%. “Mais irmãos significa mais experiência a lidar com outros e isso parece ser uma ajuda adicional para lidar com um casamento.”