O que têm em comum Emily Dickinson e J.S Bach?

Uma livraria não precisa de ser grande para ter uma boa oferta. Uma prova disso é a Almedina do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão. 

Apesar do tamanho, sempre que ali entro encontro livros que gostaria de levar para casa, e no dia em que a visitei a seguir a ver a exposição dedicada à obra de Almada Negreiros na Fundação Gulbenkian não foi diferente. A minha intenção inicial era aproveitar o crédito obtido com a devolução de um livro infantil para adquirir Cem Poemas, de Emily Dickinson. Poderá parecer algo estapafúrdio, mas, para quem aprecia os livros como objetos, a capa tem um papel determinante. Já deixei de comprar livros que me interessavam por não gostar da capa – neste caso, o livro interessava-me quase independentemente do conteúdo, graças à sua capa cor de chocolate, com uma fotografia espectral da autora e letras bem desenhadas.

Enquanto procurava os Cem Poemas de Emily Dickinson, fui naturalmente olhando para outras obras. Uma das que me chamaram a atenção foi Music in the Castle of Heaven, do maestro britânico John Eliot Gardiner. Trata-se de uma biografia – ou retrato – de um dos meus «heróis» musicais, o compositor Johann Sebastian Bach, sobre cuja vida eu gostaria de saber mais há já algum tempo.

Uma vez que tinha o tal crédito, que praticamente cobria o valor de um dos livros, a ideia de levar os dois começou a tornar-se quase irresitível.

O que têm em comum uma poetisa americana do século XIX e o grande compositor barroco? Aparentemente, nada, mas na minha mente havia alguma coisa a ligá-los. Já em casa, percebi o quê.

A primeira vez que ouvi mencionar o nome de Emily Dickinson foi numa passagem de Dangling Conversation, uma canção do duo Simon e Garfunkel: «And you read your Emily Dickinson/ And I my Robert Frost/ And we note our places with bookmarkers/ That measure what we’ve lost».

Noutro álbum de Simon e Garfunkel, o célebre concerto em Central Park, existe uma canção inspirada n’A Paixão Segundo S. Mateus, de Johann Sebastian Bach. Era pois esse o elo de ligação entre Bach e Emily Dickinson. Além disso, na edição que tenho em casa, A Paixão Segundo S. Mateus é interpretada pelo Coro Monteverdi, sob a batuta de John Eliot Gardiner. Nada mais, nada menos do que o autor de Music in the Castle of Heaven.