Cervejas falham em Angola

Tanto a Central de Cervejas como a Unicer querem produzir cerveja no exterior, mas projetos têm saído fracassados. Dona da Sagres voltou no início deste ano a Angola.

A Central de Cervejas (dona da Sagres) voltou ao mercado angolano depois de uma tentativa falhada na produção de cervejas. O projeto arrancou em fevereiro em parceria com a Sobida, em que a empresa de Isabel dos Santos é a responsável pelo investimento na ordem dos 134 milhões de euros (cerca de 150 milhões de dólares). O negócio prevê que a Sobida produza a cerveja Sagres em Angola com os mesmos padrões da que é fabricada em Portugal, resultado da aprovação deste acordo por parte da Sociedade Central de Cervejas e sob a supervisão do seu principal acionista, o Grupo Heineken, num regime de ‘trade mark license agreement’.

 «O projeto arrancou e simultaneamente inaugurou uma das mais modernas cervejeiras em Angola, sendo a cerveja Sagres a única marca internacional de cerveja a ser produzida atualmente naquele país», revela ao SOL fonte oficial da Central de Cervejas.

Para trás, ficaram várias tentativas frustradas de produzir cerveja no mercado angolano. A empresa admite que «desde a primeira década de 2000 tem tentado produzir em Luanda. O projeto não correu bem e faz parte do passado. Tirámos as lições inerentes para que não de repitam os erros», apesar da marca estar presente no mercado angolano há mais de 50 anos através das importações.

Ainda assim, a cervejeira admite que as vendas  para Angola têm vindo a cair significativamente desde pelo menos 2013. Esta quebra deve-se a vários fatores, como o aumento das taxas aduaneiras, a quebra do preço internacional do barril de petróleo, a falta de divisas e as greves dos portos de Lisboa, entre outros.

Mas também a produção de cerveja não tem vida facilitada. O Governo angolano admitiu recentemente que a falta de divisas para a aquisição de matérias-primas no exterior está a afetar a produção no setor de bebidas, apesar de continua a registar taxas elevadas de utilização da capacidade instalada.

Também fracassada foi a experiência da Central de Cervejas no mercado brasileiro, onde avançou com um projeto piloto em 2014. «O projeto foi um piloto, com início em agosto de 2014, com incidência no Rio de Janeiro mais propriamente nos “Botecos”, locais de petiscos de grande influência portuguesa e com um formato próprio de uma garrafa retornável de 60 cl. Ao fim de um ano e como projeto piloto, verificou-se que os resultados atingidos estavam aquém dos perspetivado. Assim foi decidido cessar o mesmo», admite a cervejeira, lembrando ainda que a entrada de produtos alimentares exportados, como a cerveja, para o Brasil «é extremamente complexa e sobrecarregada de taxas de importação».

A verdade é que este não é o caso isolado. Também a Unicer, dona da Super Bock, tem enfrentado os mesmos problemas nas suas tentativas de produção de cerveja no exterior. No final de 2013, a empresa anunciou que pela primeira vez iria começar a produzir fora do país, através de uma parceria com a Riograndense. A decisão de licenciar a produção no Brasil foi justificada pela Unicer, na altura, com os «preços proibitivos a que a cerveja produzida na fábrica de Leça do Balio chegava aquele país, dadas as taxas e impostos a que está sujeita».

No entanto, já este ano, a empresa revelou que tinha desativado a sua parceira no mercado brasileiro e que estaria a repensar o projeto fabril face ao ambiente no país e o mercado europeu estar estabilizado, com crescimento tímido. Contactado pelo SOL, a dona da Super Bock não quis prestar declarações. 

Também o projeto de fabricação em Angola tem sido sucessivamente adiado, com a cervejeira admitir por várias vezes que os timings poderiam ser alterados se não estivessem reunidas as condições de realização do capital dos parceiros, uma vez que estava previstos que estes tivessem mais de 50% do capital. Esta ideia de avançar com a produção no mercado angolano surgiu ainda na altura em que Pires de Lima, ex-ministro da Economia, liderava a empresa.