Uma sardinha para três

Um terço da comida do mundo vai parar ao caixote. Mas a Re-Food apresenta uma alternativa, tendo a ambiciosa missão de eliminar o desperdício. E só com a ajuda de voluntários.

A expressão do título, que antes ilustrava uma ideia de fome, caracterizando períodos de escassez sentidos em Portugal no século passado, pode servir hoje para traduzir a importância de um melhor aproveitamento da comida, para que possa chegar a mais pessoas, as mais necessitadas. É para elas que a Re-Food trabalha.

A organização, que se vê mais como um movimento, acredita num mundo novo, onde todos os alimentos que são produzidos vão diretamente para as pessoas; e onde os cidadãos participam ativamente na gestão e na redistribuição desses recursos. A Re-Food foi fundada por Hunter Halder, um norte-americano a viver em Portugal, e abriu o seu primeiro núcleo em março de 2011. A organização está agora espalhada por vários pontos, um pouco por todo o país. A base é sempre a mesma: um restaurante, um voluntário e uma família que precise de comida.

Cada núcleo recolhe excedentes de restaurantes e outros estabelecimentos parceiros, na maioria comida que seria desperdiçada, e distribui depois por famílias carenciadas da zona. De uma freguesia de Lisboa seguiu-se outra e mais outra e atualmente são já mais de 50 as zonas que têm apoio da Re-Food.

Os alimentos resgatados permitem servir 84 mil refeições por mês. Mas este trabalho só é possível graças a mais de quatro mil voluntários que mudam o mundo, duas horas por semana de cada vez. Além dos voluntários e dos parceiros, cada núcleo precisa de vários equipamentos para poder conservar, com segurança, a comida recolhida nos restaurantes, até esta ser distribuída pelas famílias. E foi nesse ponto que o Novo Banco Crowdfunding se revelou essencial para quatro núcleos da Re-Food, que recorreram a esta plataforma para angariarem donativos.

O núcleo de Alvalade reuniu 1.326 euros em 2015, com os quais comprou cinco frigoríficos, que conservam «uma refeição completa diária para cerca de 140 pessoas», explicou ao SOL António Sarmento, da Re-Food Alvalade. «Sem estes frigoríficos não poderíamos ter arrancado com o projeto», acrescentou.

Em Cascais, os donativos chegaram aos 5.080 euros, com os quais compraram em 2015 equipamentos para armazenar a comida, uma máquina de lavar louça e uma bancada de apoio. Os donativos serviram ainda para comprar «caixas para transporte de comida, sacos, detergentes e aventais», afirmou ao SOL Mafalda Teixeira, da Re-Food Cascais, núcleo que apoia atualmente 54 famílias.

Já o núcleo de São Sebastião, em 2014, angariou 2.500 euros em poucos dias, conseguindo comprar seis frigoríficos «essenciais para a refrigeração dos alimentos», e ainda mais 245 euros que ajudaram a adquirir outros equipamentos necessários ao funcionamento do núcleo, como caixas, sacos e material de limpeza.

Mais a sul, Faro juntou 1.200 euros no ano passado, com os quais foram comprados três frigoríficos. É neles que a comida fica guardada antes de ser distribuída «de segunda a sexta-feira a 50 famílias», adiantou ao SOL Alexandre Costa, da Re-Food Faro.

Para este voluntário, a ajuda nunca é demais, mas há ainda «muitas famílias em lista de espera». Alexandre Costa acredita que com mais pessoas a cederem duas horas por semana, a Re-Food Faro e os outros núcleos poderiam chegar a um maior número de restaurantes e servir ainda mais refeições.

Este apelo à angariação de voluntários junto da comunidade é partilhado, no geral, por todos os núcleos. Saiba como e onde ajudar em www.re-food.org/pt.