Uma lição de Teodora Cardoso

Voltei ao ISEG para celebrar o Dia do ISEG e do Antigo Aluno, por ocasião do seu 106º aniversário. Estudei nesta universidade entre 1970 e 1975, ou seja, já lá vão 42 anos que saí com o ‘canudo’ que me habilitou para uma vida profissional intensa. Muito do que sou profissionalmente devo a esta casa.…

Voltei ao ISEG para celebrar o Dia do ISEG e do Antigo Aluno, por ocasião do seu 106º aniversário. Estudei nesta universidade entre 1970 e 1975, ou seja, já lá vão 42 anos que saí com o ‘canudo’ que me habilitou para uma vida profissional intensa.

Muito do que sou profissionalmente devo a esta casa. Tendo feito a instrução primária no Lar da Criança, o secundário num liceu extraordinário (Pedro Nunes) e o universitário no ISEG, fui um privilegiado pela possibilidade que os meus pais me deram de poder estudar e, sobretudo, pelas escolas onde andei.

Este Dia do ISEG tem coisas curiosas. Agregando atuais e antigos alunos (comunidade de alumni), percebe-se que os mais velhos se orgulham de ali regressar, sobretudo para contar experiências de vida vivida; e os mais novos partilham o desejo de singrar em tempos diferentes, com realidades diferentes.

Através de painéis moderados por Henrique Monteiro, pudemos ouvir Luís Alves Costa (presidente da Associação de Antigos Alunos), Teodora Cardoso e alguns jovens estudantes. Sem qualquer espécie de saudosismo por ali estar de novo, foi para mim extremamente interessante ouvir as histórias contadas e, sobretudo, Teodora Cardoso – este ano laureada com o Prémio de Carreira ‘Económica, Política e Social’  (a par de Horácio Negrão, meu amigo e antigo sócio, galardoado justamente com o Prémio de Carreira ‘Gestor e Empreendedor’).

Teodora Cardoso deu uma lição de Economia!

Parece fácil quando tanto se sabe. Mas, como mais tarde reconheceu, muito do seu saber foi feito ‘on job’, ou seja, no Banco de Portugal, para onde entrou como jovem quadro em 1973, com o saudoso Ernâni Lopes (que tive a sorte de conhecer pessoalmente).

Reconhecendo que foi para Económicas porque gostava de Letras e Matemática, sendo a alínea de Económicas a única que no liceu lhe permitia juntar estas duas vocações – portanto, uma opção feita por exclusão de partes –, os que a ouviram só podem bendizer a escolha que fez.

 A simplicidade da sua exposição técnica sob o tema ‘As voltas que falta dar’ devia ser tema de reflexão para muitos ministros, políticos e deputados que peroram sobre economia como eu falo de um lagar de azeite!

Com base na atual situação altamente favorável nesta conjuntura portuguesa, refletiu sobre as opções a ponderar hoje – sempre na perspetiva do longo prazo. Neste ponto – e agora o comentário é meu – é que se distingue o político do economista. O político a pensar permanentemente nas eleições, com ausência de perspetivas de longo prazo, e o economista a querer sempre um país ‘arrumado’, com as contas em ordem.

Voltando a Teodora, a dicotomia entre ‘maior liberdade orçamental’ (com o efeito de aumentar a despesa pública) versus ‘reorientar a economia para o crescimento’ (neste ponto parece que estava a ouvir Marcelo – sempre a pretender ‘pontes’ entre os atuais políticos, numa convergência utópica de estratégias de longo prazo).

Ainda refiro algo de muito importante dito por Teodora Cardoso: a importância das apostas ou investimentos nos setores transacionáveis, que nos façam de facto crescer. E por aqui me fico, apenas com um desabafo para os que tanto denegriram recentemente uma grande Senhora do pensamento económico português e europeu. Uma voz avisada e assisada que nos ilumina com o brilhantismo do seu raciocínio pragmático. Parafraseando Juan Carlos: «Por que não se calam?».

Saí do ISEG confortado com a certeza de que o meu Instituto continuará a pautar a economia deste país, dada a atual plêiade de professores. Ou seja, os jovens que por ali passarem (como certamente noutras universidades de gestão) terão as ferramentas de que necessitam para melhorar nas próximas gerações o destino deste país. Assim optem por aqui ficar!

Mas rapidamente sou acordado destas reflexões com as notícias de que a Comissão Europeia propõe avançar com a União Bancária nos próximos 2 anos, com definição de estratégias para o malparado. Mais vale tarde do que nunca!

Igualmente se começa a falar da titularização de dívidas públicas (tipo ‘pacote’ de várias dívidas) e diversas outras medidas a prazo, até um Ministério das Finanças na Zona Euro, algures por 2020 ou 2025.

De repente, começam a ser discutidos temas cruciais para uma União Europeia bem real. Por outras palavras, vamos lá ver quem de facto quer estar na Europa com direitos mas também deveres. Os próximos tempos prometem, até porque os países mediterrânicos vão estrebuchar como se tivessem alternativas minimamente consistentes (não considerando a saída do euro!).

Lá está: os políticos estudaram economia a sério ou apenas os capítulos suficientes para ganharem eleições?

 

P. S. – Entretanto, a dívida pública subiu 247 MM. Haja alegria! De facto, como diz António Costa, o líder da Oposição Passos Coelho é uma pessoa «menos alegre»!