A maternidade não cabe no telemóvel

Vivemos na era da informação e da tecnologia. Cada vez temos maior acesso ao conhecimento em diferentes áreas. Os cursos proliferam e há quem colecione vários. Se o saber não ocupa lugar, então devemos aproveitar. E no que nos sentimos mais inseguros? Naquilo que é mais complexo, que achamos que não conseguimos dominar e em…

Se os bebés nascem sem livros de instruções (e de reclamações), os pais vão tirando verdadeiros doutoramentos em gravidez e desenvolvimento infantil. Sabem o que se passa com o bebé desde que é um milímetro de vida, acompanham-no de fora ao pormenor, à medida que cresce escondido atrás do umbigo, estão a par dos conceitos mais complexos, das particularidades do parto, de todas as possibilidades e meandros do que diga respeito a este novo ser ao longo da sua vida.

A sociedade, por sua parte, começou a dar resposta a esta curiosidade. Os cursos de preparação para o parto dedicam-se também aos primeiros tempos e cuidados do bebé e já muitos se prolongam para depois do nascimento. Nas maternidades a informação dada e o acompanhamento após o parto é também maior. Criaram-se linhas de ajuda, nomeadamente para o apoio à amamentação. As revistas, livros, fóruns, programas de televisão e de rádio dedicados à matéria propagam-se.

Todas estas ajudas, se não forem em excesso, são úteis para quem é pai pela primeira vez e tem nos braços um bonito e pequenino quebra-cabeças. Os pais sentem-se mais apoiados, mais informados e por isso mais seguros.

Porém, se há ajudas que facilitam, há outras que podem ser prejudiciais. São exemplo disso as aplicações para telemóvel cheias de cronómetros para controlar os tempos da amamentação e fazer as estatísticas dos vários dias, controlar o peso, a altura, a regularidade das fraldas, dos banhos, do sono e, pasme-se, para traduzir em segundos o motivo do choro do bebé.

Ora, se há pais, principalmente mães, que tinham algumas dúvidas, provavelmente sentir-se-ão ainda mais inseguros se estiverem dependentes destas aplicações. Se há meios – como a literatura, quando não é excessiva, ou o aconselhamento com amigos e familiares – que facilitam a confiança das mães, há outros que as fazem sentir-se incapazes de exercerem a maternidade sozinhas e promovem a dependência e insegurança. Porque o bebé não mamou o suficiente, engordou demasiado, dormiu muito numa noite e pouco noutra… Mas… os bebés são assim. Nós somos assim! Não somos, graças a Deus, previsíveis, e muito menos aplicações de telemóveis.

Com todo este aparato, por vezes as mães deixam de confiar em si e abdicam das coisas boas e únicas da maternidade. Trocam o prazer e a calma, a sua sensibilidade e reconhecido sexto sentido por coisas chatas de que está cheia a vida: preocupações e um controlo exagerado ditado por números, gráficos, alertas e metas impossíveis de que a maternidade jamais deveria ser feita.

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