Secretas.“Todos os equívocos serão esclarecidos”, diz Carlos César

Alguns deputados socialistas contestam a escolha feita pelo primeiro-ministro para chefiar as secretas. João Soares defende que “o senhor embaixador Pereira Gomes deveria renunciar, já, à possibilidade de vir a ocupar tal cargo”

Apesar da contestação, inclusive entre os socialistas, à escolha feita por António Costa para chefiar as secretas, o governo e o PS não deixam cair Pereira Gomes. “Estou convencido que todos os equívocos que têm surgido sobre o papel do indigitado quando esteve em Timor serão esclarecidos na audição parlamentar e salvaguardarão a adequação da sua conduta e conformidade com as instruções recebidas e, agora, da sua nomeação. Veremos”, diz ao i o líder parlamentar do PS.

Carlos César não exclui, porém, que o governo tenha de repensar a escolha que fez e acrescenta: “Só se assim não acontecer é que o processo terá de ser reiniciado”.

O governo reforçou ontem a confiança em José Júlio Pereira Gomes, indigitado para secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). O ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que “é uma muito boa escolha”. Augusto Santos Silva disse que o governo aguarda “tranquilamente a audição parlamentar” e que “é uma boa prática que as audições parlamentares não sejam um pró-forma e se houver alguma dúvida ela seja esclarecida”. Pereira Gomes vai ser ouvido no parlamento nos próximos dias. A Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias está ainda à espera que o governo envie documentação que servirá para preparar a audição com o indigitado.

“NÃO TEM CONDIÇÕES”

O nome de Pereira Gomes para chefiar as secretas continua a ser questionado por alguns socialistas. João Soares defende que Pereira Gomes “não tem condições para poder vir a ser, com a autoridade desejável e necessária”, o próximo secretário-geral do SIRP. O deputado socialista – que pertenceu ao Conselho de Fiscalização do SIRP – considera que “o senhor embaixador Pereira Gomes deveria renunciar, já, à possibilidade de vir a ocupar tal cargo”. Para o ex-ministro de António Costa, o embaixador “não teve, infelizmente, um comportamento exemplar durante a crise timorense, bem pelo contrário”.

A eurodeputada Ana Gomes foi a primeira a colocar em causa a escolha do primeiro-ministro. A socialista disse ao “Diário de Notícias” ter “dúvidas de que o embaixador Pereira Gomes tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações”. A deputada Helena Roseta também defendeu, em declarações ao “Público”, que “se se escolhe para este lugar alguém que não esteve à altura numa situação-limite, então pode ser perigoso”.

No centro da polémica está a forma como Pereira Gomes conduziu a missão portuguesa em Timor, em 1999, antes da independência daquele território. O embaixador é criticado por ter forçado a retirada da missão portuguesa, mas garantiu, em declarações ao “Observador” que está de “consciência tranquila”.

As dúvidas sobre a actuação de Pereira Gomes já levaram o Bloco de Esquerda a defender que “o governo deve reconsiderar” a escolha que fez. Catarina Martins afirmou que “quando Pereira Gomes chefiava a missão da ONU, em Timor, houve vários episódios bastante complicados e nunca esclarecidos”. Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recusou fazer “juízos antecipados” e considera “importante e relevante, em sede de Assembleia da República, que haja esse aclaramento em relação à situação que está denunciada”.

O primeiro-ministro ouviu Passos Coelho antes de indigitar Pereira Gomes. O presidente do PSD, questionado sobre esta polémica, neste fim de semana, frisou que não é o PSD “quem está a levantar objecções ou problemas acerca desta matéria, mas estamos atentos ao que se está a passar”. As atenções estão centradas na audição parlamentar com o embaixador. O Presidente da República já disse que “quando há uma audição, nunca é formal, é sempre substancial”. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “o Presidente da República acompanha esse processo com atenção, mas não tem competência para intervir nele”. A nomeação do secretário-geral do SIRP é da exclusiva responsabilidade do primeiro-ministro.

“Estou convencido que todos os equívocos que têm surgido sobre o papel do indigitado quando esteve em Timor serão esclarecidos na audição parlamentar (…) Só se assim não acontecer é que o processo terá de ser reiniciado” Carlos César líder parlamentar do ps “Não teve, infelizmente, um comportamento exemplar durante a crise timorense, bem pelo contrário” João Soares deputado do ps “Na minha opinião é uma muito boa escolha e agora aguardamos tranquilamente a audição parlamentar” Augusto Santos Silva ministro dos negócios estrangeiros “Se se escolhe para este lugar alguém que não esteve à altura numa situação-limite, então pode ser perigoso” Helena Roseta Deputada do PS . “Estou convencido que todos os equívocos que têm surgido sobre o papel do indigitado quando esteve em Timor serão esclarecidos na audição parlamentar (…) Só se assim não acontecer é que o processo terá de ser reiniciado” Citações